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O Sertão Chora

Wilson Aragão

A seca que abate a gente
tira a comida da mesa
o sertanejo (nordestino) humilhado,
não esconde sua tristeza:
finca a enxada no chão
e, naquele poeirão,
sobe um mundo de incerteza.
O sertanejo resiste,
forte como um pau-pereira
clamoroso é ao que se assiste
nesta nação brasileira,
onde uns têm tudo farto,
mulheres morrem de parto
nos braços de uma parteira.
Na seca a politicagem
dos coronéis faz parada
homens aqui são tratados
como se fossem boiada.
Triste sertão de "caboclo",
onde um voto vale pouco,
onde a vida vale nada.
Passa a seca vem a chuva
nada de melhorar,
porque o governo nega
semente pra semear,
e o latifundiário,
pra aumentar o calvário
nega terra pra plantar.
Desrespeita-se a velhice
abandona-se a infância
as escolas desmoronam
por injúria ou traficância,
do saber poucos se apossam
e as criancinhas engrossam
o Exército da ignorância.
Terra que produz de tudo
- do feijão ao babaçu -
teu povo é escravizado
no açoite do couro cru;
come restos de ração,
bebe a lama do porão,
não tem roupa - anda nu.

Semblantes desfigurados,
corpos esqueléticos nus,
enquanto nutrem a esperança
num milagre de Jesus,
disputam pelas estradas
brutos já mortos, ossadas,
com bandos de urubus.

Asfora falou um dia
dos seios sem leite, murchos
das veias brancas, sem sangue,
que nem algodão - capuchos -,
enquanto reina a alarvia
da elite que um dia
terá de perder os luxos

Composição: Wilson Aragão, Miguel Lucena





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