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Casa de Fados

Vicente da Câmara

Uma amizade perdida
Nunca mais pode voltar
É amizade fingida
Se vai e volta a brincar
Ninguém dá nada
Se atrás não vier contra valor
Ninguém dá nada
Se atrás não vier contra valor

Só um amigo é capaz
Sem receber dar amor
Só um amigo é capaz
Sem receber dar amor

Minha mãe, eu canto a noite
Porque o dia me castiga
É no silêncio das coisas
Que eu encontro a voz amiga
Minha mãe, eu choro à noite
Neste amor em que me afundo
Porque as palavras da vida
Já não têm outro mundo

Por isso sou este canto
Minha mãe, tão magoado
Que visto a noite em meu corpo
Sem destino, mas com fado

Talvez o fado me diga
O que ninguém quer dizer
E por isso eu o persiga
Para nele me entender
E por isso eu o persiga
Para nele me entender

Meu amor tenho cantado
Sobre um céu tão derradeiro
Porque me entrego em cada fado
Como se fosse o primeiro

Talvez o fado não me peça
Tudo aquilo que lhe dou
Por isso por mais que o esqueça
Ele não esquece o que eu sou
Por isso por mais que o esqueça
Ele não esquece o que eu sou

Chorava por te não ver
Por te ver eu choro agora
Mas choro só por querer
Querer ver-te a toda a hora

Passa o tempo de corrida
Quando falas eu te escuto
Nas horas da nossa vida
Cada hora é um minuto

Deixa-te estar a meu lado
E não mais te vás embora
Para meu coração coitado
Viver na vida uma hora

Não tenham medo da fama
De Alfama mal afamada
A fama ás vezes difama
Gente boa, gente honrada

Fadistas venham comigo
Ouvir o fado vadio
E cantar ao desafio
Num castiço bairro antigo

Vamos lá, como eu lhes digo
E hão-de ver de madrugada
Como foi boa a noitada
No velho bairro de Alfama

Eu sei que o mundo falava
Mas por certo, com maldade
Pois nem sempre era verdade
Aquilo que se contava
Não tenham medo da fama
De Alfama mal afamada

Muita gente ali, levava
Viva sã e sossegada
Sob uma fama malvada
Que a salpicava de lama
A fama ás vezes difama
Gente boa, gente honrada

Composição: Arnaldo Forte / Raul Ferrão





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