Vivia me tiritando no banco daquela praça
Não me importava a desgraça de não ter pão e nem teto;
Mas meu olhar frio e discreto revelava grande dor
Num milionário de amor na mendigância de afeto.
Sentado naquele banco perdido em meditações
Ia vivendo ilusões da longínqua mocidade
Quando fez da liberdade seu mais sagrado ideal
Pra convencer-se afinal que não existe igualdade.
Falado:
Dava rédea ao pensamento voltando assim ao passado
E outra vez ser soldado nas forças do velho Bento
E com lampejo de alento fitava seus velhos trapos
E como autentico farrapo honrava seu fardamento.
Cantado:
Entre os chefes farroupilhas fora mui considerado
Altivo, disciplinado, valente, forte e correto;
E apesar de analfabeto era da tanta confiança
Que chegou a ser ordenança do grande general Netto.
Mas antes de ser farrapos já dera a mostra do pano
Combatendo castelhano que invadiam nosso chão
Depois de lança na mão se foi cruzando a fronteira
Hastear nossa bandeira no palácio de Assunção
Falado:
Depois de muitas andanças e vencer muitas batalhas
Sonhar com tantas medalhas sem conquista-las jamais
Ver os preciosos metais por ironia da vida
Se punha sob medida pro peito dos maiorais.
Cantado:
Por fim alcançada a paz o farrapo valoroso
Passava por mentiroso nos bolichos do povoado
Quando meio embriagado após uns trago de canha
Contava suas façanhas no seu tempo de soldado.
Falado:
Falava em duelo com entono com encilho campeador
Só não falava de amor, nem mesmo quando bebia
Por que a morte um certo dia passando por seu ranchito
Carregou para o infinito a china que ele queria.
Cantado:
Por siso todas as tardes ia estender a carcaça
No banco daquela praça que nunca lhe rejeitou
Certo dia ali sonhou com o maior triunfo do mundo
Que o sonho foi tão profundo que jamais ele acordou.