Estou de passagem para a outra margem
Tenho um Jesus numa cruz à minha imagem
E o nervosismo dá em cinismo
Ou em filosofia de autoclismo
Perdi o sentido de humor
Na sedentária vida ordinária
Ou é do frio ou do calor
Ou da precária conta bancária
Medo
Não tenho medo
Bem-me-quer
Malmequer
Cantiga de um ladrão
Anda cá
Volta atrás
Não vou dizer que não
Pensas que isto é tudo invenção?
Gente que mal desperta veste a cueca da imitação
Gente que se apavora se chega a hora e não há canção
Comes o fruto do ouro bruto
Pensas que chove e que tu ficas enxuto
Burro ou astuto
Levas o tempo a dormir em pé
Gente que sabe tudo e rouba ao mundo opiniões
Gente que se faz grande e leva no sangue mil frustrações
Sentas-te à mesa da tua presa
Não tens dinheiro mas comes sobremesa
Tens a certeza
Que o mundo é filho de um pai sem fé