Le-rê, lá-rá
Vem ver nesse palco
O Brasil desfilar.
A história do Império é muito louca,
Era muito malandro nessa boca,
Na Corte Real de Dom João VI.
Pr'uma festa de gala, pr'um banquete
Pra tomar Bourbom no gabinete
Tudo servia de pretexto.
Dom João balançava sua pança
E o lar de Orleans e de Bragança
Se abria pra boca do lixo.
A rainha Carlota era devassa
E o Barão de Drumond virou na praça
O primeiro banqueiro de bicho.
O chalaça era figurinha fácil,
Mandava pra burro no palácio,
Mas não tinha cargo nem ofício.
Tremendo armador, seu escritório
Ficava num livre território
Na zona do baixo meretrício.
Quem vivia na zona com o chalaça,
No samba, na esbórnia, na cachaça,
Era Dom Pedro I,
Que saía da cama das francesas
Pra alcova de luxo da Marquesa
Com o aval do povo inteiro.
Quem fazia o despacho pro monarca
Era Zé Bonifácio, o Patriarca,
Que foi sempre a eminência parda.
Os Barões lhe prestavam reverência
Temendo os dragões da independência
Que atrás do poder já tinha farda.
A República foi proclamada
Com a Monarquia derrubada
No baile da Ilha Fiscal.
Mas a festa da Corte continua
A nobreza hoje dança na rua
Do país do Carnaval.