Toninho Horta nasceu em Belo Horizonte, em dezembro de 48. Sua mãe, Dona Geralda, crescera no interior de Minas, acompanhando o pai João Horta, que além de funcionário público da Central do Brasil e um grande maestro. Com a influência direta dele, ela começou também a tocar, e dedicou-se ao Bandolim.
Em novas andanças do maestro João Horta, firmaram residência em Pirapora, onde Geralda veio a conhecer o futuro pai de Toninho, Sr. Prudente de Melo, fazendeiro e também afeito à música, em especial ao violão.
O namoro não tardou e a nova família instalou-se em fazenda no norte de Minas. O nascimento de Paulo foi
o primeiro de uma seqüência de seis partos. A grande família ficou assim: Prudente, Geralda, Paulo, Letícia, Gilda, Berenice, Antônio e Marilena.
No final dos anos 30, a família resolveu então mudar-se para Belo Horizonte, em busca de melhor educação para os filhos. Com a chegada à capital, a influência musical, já fortalecida pelas duas gerações de músicos
da família, tomou novos rumos e proporções.
Paulo já tinha trilhado suas primeiras experiências, e as novas influências fizeram com que sua opção pela música profissional crescesse naturalmente.
Em pouco tempo, Paulo Horta já estava envolvido no movimento dos músicos de BH, freqüentando o Ponto dos Músicos e trabalhando em bailes da cidade.
Com o amadurecimento musical vieram as novas influências, e a entrada do Jazz no repertório de Paulo ainda uma criança que, nesta época, se interessava mais pelas brincadeiras de rua e pela infância do que pelo fazer música.
Com a bagagem de família e o exemplo do irmão mais velho, os outros filhos também desenvolveram suas habilidades musicais. Entre eles, Toninho se mostrava particularmente tocado pela Música.
Sua mãe conta de certa vez quando, ainda aos 3 anos, o bebê Toninho escutou uma música de Debussy (Claire de Lune) na radiola e se emocionou surpreendentemente.
Aos dez anos, Toninho já dava seus passos iniciais no violão. Começava aí sua trajetória musical. Sua habilidade com o instrumento já se sobressaía em casa. Começava também a acompanhar o irmão nos ensaios e apresentações, além de escutar os diversos discos que naquela época influenciavam o irmão e seus amigos músicos.
Aos poucos, a intimidade entre Toninho e seu violão amarelo Del Vecchio aumentava. Toninho já tocava algumas músicas, ensaiava as primeiras composições. Seu interesse pela música sobrepujava sua atenção com a escola.
Com a participação do irmão em um clube de jazz, ao lado de Nivaldo Ornellas, Hélvius Villela e Paschoal Meirelles, Toninho se sentia cada vez mais fascinado pela música.
A Boate Berimbau, como era chamada, já fazia parte de sua vida, e sua atenção para com os ensaios e apresentações do irmão era quase total.
Nessa época inclusive, Toninho, aos 14 anos, teve uma música sua gravada pelo Conjunto de Aécio Flávio – Flor que cheira a saudade, sua terceira composição.
Também nesta época, Toninho foi apresentado por seu irmão a um garoto que segundo diziam era uma “fera”. Seu nome: “Bituca”. Naquele momento, Milton tocava baixo e cantava com o conjunto de Marilton Borges.
Algumas mudanças forçosas o levaram então para o Colégio Estadual. Com o ambiente cultural favorável que lá existia, começou a se relacionar mais com os jovens de sua idade que demonstravam interesse pelas artes e pela música e que, como ele, se espelhavam nos músicos e artistas mais velhos.
Foi o primeiro contato do jovem Toninho com alguns dos músicos e amigos que posteriormente fariam parte do Clube da Esquina: Fernando Brant, Márcio Borges, Nélson Ângelo, Murilo Antunes.
Pouco tempo depois, Toninho começou a tocar em bailes e formaturas acompanhando o irmão no “Conjunto de Aécio Flávio”, e pela primeira vez substituiu o Violão pela Guitarra.
Com uma maior experiência e no espírito da descoberta de novas e variadas influências, começaram a aparecer as primeiras composições mais elaboradas e as primeiras parcerias, inclusive com Márcio Borges.
Neste mesmo período, e a reboque de sua paixão pela música, Toninho decidiu estudar Teoria Musical em Belo Horizonte.
Em pouco tempo, surgiria a possibilidade concreta de participar com as diversas músicas feitas nesta época em festivais espalhados pelo Brasil afora.
Lá se foram então aqueles desconhecidos jovens para o mundo surpreendente e deslumbrante do show business. No Festival Internacional da Canção Popular de 1967, realizado no Rio de Janeiro, Toninho inscreveu 2 músicas, sendo uma parceria com Márcio Borges (Nem é carnaval) e outra com sua prima Júnia Horta (Maria Madrugada).
Milton, por sua vez, participou com 3 músicas, inscritas sem seu consentimento por Agostinho dos Santos: Morro Velho e Maria Minha Fé (de sua autoria) e Travessia (com Fernando Brant).
Já em 69, Toninho e Márcio inscreveram mais uma música: Correntes.
Naquele tempo, os festivais eram a porta de entrada para o mundo da música profissional e o acesso aos restritos espaços onde as gravadoras buscavam novos talentos. E com aqueles garotos não seria diferente.
A repercussão em torno de “Travessia” (2ª. Colocada no festival de 67) e das outras músicas dos jovens mineiros, além da qualidade artística surpreendente de Milton, determinariam o início de um processo que 05 anos mais tarde culminaria com a gravação do Clube da Esquina 1.
A amizade entre os músicos da velha geração (Marilton Borges e Paulo Horta) e os da nova (Toninho, Márcio e Lô, Fernando, Milton, Beto) e a amizade que surgiu entre eles criou laços definitivos e marcantes para a música que surgia.
Toninho e toda a turma estavam de volta a BH, ainda espantados com a repercussão do festival de 67. A música já tomava o tempo e a atenção de forma definitiva.
Toninho continuou tocando em bares e acompanhando outras bandas, continuou compondo, ampliou as parcerias e iniciou um processo de fornecer canções a outros intérpretes e músicos.
Nesse momento, Beto e Lô também já viviam a música de forma intensa. Os encontros nos bares de Santa Tereza eram freqüentes, com a participação de diversos músicos e compositores, entre eles Toninho, Lô, Beto, Márcio, Fernando. O ambiente de criação e experimentação já estava formado, com as características e as influências específicas de cada um daquele grupo. Toninho trazia a bossa nova e o jazz, Lô e Beto eram responsáveis pela influência mais contemporânea do rock e do progressivo, Márcio e Fernando agregavam a bagagem literária e de cinema, a mineiridade em palavras.
Nessa época Milton já estava em ritmo de gravação. Discos no Brasil e nos EUA (Travessia - 67, Courage - 68, Milton Nascimento – 69, Milton - 70) que revelavam não só o talento daquele grande intérprete mas também a musicalidade e a sonoridade especial daqueles outros jovens de BH.
O repertório dos discos era quase todo composto por parcerias entre Milton, Márcio e Fernando. Foi também neste período (Milton Nascimento – 69) que Milton gravou pela primeira vez uma música de Toninho, em parceria com Fernando Brant – Aqui Ó.
No ano seguinte, (Milton - 70) seria gravada também Durango Kid, outra parceria Toninho-Fernando.
Com o crescente interesse do público por aquelas músicas, Milton iniciou uma série de shows, onde além das músicas passou a incorporar à sua banda os músicos que a produziam.
Surgia "Ah e o Som Imaginário", que durante algum tempo contou com a presença constante de Toninho Horta, além de Wagner Tiso, Nivaldo Ornellas, Novelli, entre outros.
As temporadas de shows abriram um espaço definitivo para os músicos mineiros no RJ e em SP.
Em pouco tempo, Toninho Horta estaria tocando na banda de Elis, convidado por seu grande amigo Nélson Ângelo.
Fariam juntos também no início dos anos 70 a banda “A Tribo”, ao lado de Joyce, Novelli e Naná Vasconcelos.
A partir daí as oportunidades que surgiam eram tantas que não foi possível para Toninho aceitar todas. Num período pequeno, passou a tocar com Milton, Elis, Joyce e A Tribo, Gal Costa, Nana Caymmi, João Bosco, entre outros.
Com tamanha demanda, participou a distância da preparação de “Clube da Esquina 1”, realizada em Mar Azul – Piratininga. Depois, no entanto, participou em diversas faixas da gravação do “Clube 1”, tocando desde guitarra e violão até percussão e bateria.
No ano seguinte, participou também em diversos instrumentos do disco “Lô Borges – disco do tênis”.
Nesse mesmo ano, gravou o “Disco dos 4 – Toninho Horta, Beto Guedes, Danilo Caymmi e Novelli”, onde pode pela primeira vez pode registrar suas próprias músicas em um disco – Meu canário azul e Manuel o Audaz. Toninho já era nessa época, como ele próprio considerava, um músico de estúdio.
Tocava com diversos cantores e intérpretes, gravava discos e fazia turnês. E era sempre convidado a participar de cada novo projeto de Milton. Milagre dos Peixes ao Vivo (74), Minas (76), Raça (76), Geraes (79).
E foi nas gravações de “Raça” nos EUA que surgiu a grande oportunidade para o primeiro disco autoral. Após a gravação do disco, haviam sobrado alguns rolos virgens e horas de estúdio, então Milton propôs a Toninho que aproveitasse aquelas horas para gravar seu primeiro disco.
Toninho convidou então Ronaldo Bastos, que já havia produzido diversos discos de Milton e o próprio
“Geraes”, para a produção de seu primeiro disco.
Surgia o antológico “Terra dos Pássaros”, assim batizado em uma homenagem de Toninho a sua guitarra Gibson, modelo Birdland.
Apesar de iniciado em 76, “Terra dos Pássaros” seria lançado somente em 1980. Nesse meio tempo, Toninho ainda participaria do “Clube da esquina 2” e dos discos de Lô e Beto, João Bosco, Airto Moreira, Edu Lobo, Nana Caymmi, entre outros.
Neste mesmo período, seu trabalho já era reconhecido também fora do Brasil, e ele foi eleito por dois anos consecutivos (77 e 78) entre os Dez maiores guitarristas do Jazz, segundo a publicação inglesa especializada “Melody Maker”.
Após o lançamento de “Terra dos Pássaros”, Toninho lançou rapidamente o seu segundo disco, intitulado
“Toninho Horta”.
Continuava tocando muito, mas não possuía mais a mesma vontade em manter-se naquele ritmo de músico requisitado. Foi quando surgiu a possibilidade de permanecer por algum tempo nos EUA.
A decisão de passar algum tempo fora teria repercussões muito importantes para Toninho Horta e sua música.
Para favorecer sua adaptação à língua, decidiu retornar aos estudos e freqüentou por algum tempo a Juilliard School of Music, de Nova York.
Pode com isso agregar novos conhecimentos à sua maneira especial de fazer música.
Após um pequeno período, tornou-se um instrumentista requisitado por grandes músicos e instrumentistas do Jazz norte-americano.
Tocou com Wayne Shorter, Gary Peacok, Pat Metheny, Manhattan Transfer, Sergio Mendes, Orchestra Gil Evans, George Duke, entre outros.
Com essa mudança de ares, e com a repercussão já alcançada pelos discos do Clube, Toninho passou a ser reconhecido não só como grande instrumentista, mas também como grande músico de jazz, e teve com isso grande impulso na sua carreira internacional.
Começou a realizar com freqüência turnês pela América do Norte, Europa e Ásia. Manteve-se também participando de diversas gravações no Brasil, sempre como músico convidado em discos de Gal Costa, Chico Buarque, Nana Caymmi, Flávio Venturini.
Nas décadas de 80 e 90, Toninho participou de mais de 200 discos de diversos compositores e intérpretes, no Brasil e no exterior.
Além disso, consolidou um maior volume em sua própria produção. Lançou nos anos 80 seis discos (Terra dos Pássaros, Toninho Horta, Diamond Land, Moonstone, Toninho Horta e Flávio Venturini ao vivo no Circo Voador e Planeta Terra -com Marcio Montarroyos, Nivaldo Ornellas e Nelson Ayres).
Nos anos 90 produziu mais 9 discos (Once I loved, Durango Kid, Foot on the Road, Qualquer Canção, Durango Kid 2, Sem você – com Joyce, Serenade, From Tom to Tom, Quadros Modernos – com Chiquito Braga e Juarez Moreira).
Paralelo a essa grande produção, Toninho desenvolveu diversas atividades, entre as quais podemos destacar o 1º. Seminário Brasileiro de Música Instrumental, realizado em Ouro Preto, o espetáculo “A Hora da Estrela”, baseado na obra de Clarice Lispector e interpretado por Maria Betânia com a regência de Toninho Horta, além de diversos shows e apresentações com músicos de renome internacional, entre os quais podemos citar Toots Thielmanns, Bob Mcferrin, Pat Metheny etc.
Toninho Horta está desenvolvendo desde 2000 o projeto “Livrão da Música Brasileira”, que está pesquisando e irá disponibilizar um acervo com mais de 600 partituras. Lançamento programado para meados de 2006.
Lançou recentemente um disco seu em parceria com Felipe Cordeiro, no qual interpreta clássicos do Forró, com participações de Dominguinhos, Elba Ramalho e Fagner, entre outros.
Intitulado “Toninho Horta com o pé no forró”, o disco concorreu em 2005 ao Grammy Latino, na categoria Melhor disco de MPB.
Continua realizando turnês e workshops no Brasil e no exterior, além de receber diversos convites para produzir e/ou acompanhar artistas em discos e shows. Recentemente, produziu para George Benson o último disco do músico norte-americano.
Coordena a 2ª. Edição do Seminário Brasileiro de Música Instrumental, a realizar-se em julho de 2006.
Além disso, continua desenvolvendo o trabalho de sua gravadora, a Minas Records, para a reedição de seus discos e inicia os contatos para seu novo Disco, em que pretende agregar elementos mais modernos, como o Hip Hop e o Eletrônico, ao seu já consagrado “Jazz Mineiro”.