(declamado)
Tava o dotô delegado
na sua mesa sentado
quando um home ali chegou.
O moço vinha fardado
mostrando que era sordado
e sua história contô.
Seu dotô eu sou sordado
Pra guerra fui convocado
A Pátria fui defendê.
Lutei em campo e trincheira
Defendi nossa bandeira
Que arguém pensô em ofendê.
Eu combati mais de um ano
Só agora que tô chegano
De vorta pra minha terra.
Nos cambate das metraia
Ganhei duas medaia
Por tudo que fiz na guerra.
Mai quando eu parti eu deixei
Na casinha que morei
Uma muié, seu dotô.
Uma cabocla morena
mai formosa que sucena
Que comigo se casô.
Na hora da despedida
Quando eu tava de partida
A cabocla me falô.
Eu fico aqui te esperando
Por tua sorte rezando
E chorando me abraçô.
Diz que sordado não chora
Mais eu chorei nesta hora
Tão triste da despedida.
A cabocra que eu deixava
Pra mim representava
Metade de minha vida.
E quando parô a bataia
Emudeceu as metraia
E nóis tava vencedô.
A minha primeira lembrança
Foi pra cabocra de trança
Que nesta terra ficô.
Cheguei no Rio de Janeiro
Beijei o chão brasileiro
E segui pra casa num trem.
Levando firme o desejo
De dá o segundo beijo
Naquela que era o meu bem.
Mai quando a porta eu abri
Nem quera sabê o que eu vi:
Outro home tava lá.
Com minha cabocra amada
Que eu um dia levei pro artá.
Na guerra tive vitória
Treis medaia de glória
Tive os prêmio da Nação.
Mai aquela que devia
Me dá o amô que eu queria
Ganhei vergonha e traição.
Me prenda seu delegado
Pode chamá o seu sordado.
Veja esse fuzir seu dotô
Esse fuzir que na guerra
Lutô pela nossa terra
Hoje matô dois traidô.