Eu vejo o mundo como um grande quarto escuro,
Onde a verdade é possuída por prazer.
No leito impuro onde se larga e se abandona,
A flor humana, renascida pra sofrer.
Eu vejo o mundo como um rio de águas turvas,
Que só refletem o céu sombrio, sem o azul.
E na incerteza desse rumo em suas curvas,
Vejo o meu povo, vejo a América do Sul.
Mulher que eu sei que vai despertar
Ferir a fome, fazer cantar,
Que um sol nasceu nas enchentes,
Que há luz na sorte das gentes,
Que o amor da gente vai ter seu lar...
Vem linda e livre que eu vou te amar
Minha Amazona meu rio-mar
Meu sangue corre em teu leito
Meu sangue escorre em meu peito
Meu sangue morre de te esperar.
Enquanto o sol me ascende a sede nesse Norte
Teu transi Atlântico faz forte meu amor
Teu ser Pacífico faz guerra a minha morte
Eu tenho a vida devolvida em teu vapor.
Minha morena eu te quero ver cantando
Alimentando meu viver com a tua paz
Teu corpo imenso se integrando e se entregando
A quem te amou e a quem sangrou por teus iguais.
Janela aberta pro mesmo sol
Que nos desperta da mesma dor
Eu sinto aberta a ferida
Que a luta incerta da vida
Abriu na carne de quem sofreu...
Janela aberta pro mesmo sol
Que nos desperta prum novo amor
O céu te oferta o futuro
Que o som liberta do escuro
Pra descoberta do que é teu...