Levantei um dia cedo
Sentei na cama chorando
Meu velho tempo de peão
Nervoso fiquei lembrando
Senti uma dor no peito
Igual brasa me queimando
Ouvi uma voz lá fora
Parece que me chamando
Eu tive um pressentimento
Que a morte na voz do vento
Ali estava me rondando
Eu sai para o terreiro
Lembrei as glorias passadas
Me vi montado num potro
Galopando nas invernadas
Também vi um lenço acenando
De alguém que foi minha amada
Que a tempo Deus já levou
Pra derradeira morada
Tive um desgosto medonho
Ao ver que tudo era um sonho
E hoje não sou mais nada. . .
Pobre de quem nesta vida
Na velhice não pensou
Ao me ver velho e doente
Meu filho me amparou
Recebo tanta indireta
Da nora que não gostou
Que o meu netinho inocente
Chorando já me falou
A mamãe já deu estrilo
Diz que aqui não é asilo
Mas eu gosto do senhor
Neste meu rosto cansado
Queimado pelo mormaço
Duas lágrimas correram
Espelho do meu fracasso
É o premio de quem na vida
Não quis acertar o passo
Abri os olhos muito tarde
Quando já era um bagaço
Vejam só a situação
De quem foi o rei dos peões
Hoje não pode com um laço
A Deus eu fiz uma prece
Pedindo pros companheiros
Que perdoe todas as faltas
Deste peão estradeiro
Quando eu deixar este mundo
Meu pedido derradeiro
Desejo ser enterrado
Na sombra de um angiqueiro
Pra ouvir de quando em quando
As boiadas ali passando
E o grito dos boiadeiros