No tempo que eu fui boiadeiro
Foi um tempo divertido
Mas eu tenho uma passagem
Que não sai do meu sentido
Certo dia viajando
Pela estrada distraído
Quinhentos contos eu levava
De um gado que foi vendido
Na hora que eu dei por fé
O dinheiro tinha perdido. . .
Dois meninos inocentes
Por ali vinham passando
O almoço para seu pai
Com certeza ia levando
Acharam aquele dinheiro
Com eles foram guardando
Quando me viram na estrada
Por todo lado campeando
Satisfeitos os coitadinhos
O dinheiro foram me entregando. . .
Quando eu peguei o dinheiro
Nem sei como agradecia
Dei dez contos para os meninos
Porque eles mereciam
Quando eu dei o dinheiro
Teve um sujeito que viu
Dali eu segui viagem
Mas daquilo não esquecia
O que ia acontecer
Meu coração pressentia. . .
Quanto mais eu viajava
Mais ficava contrariado
Resolvi voltar pra trás
Pelo destino mandado
Palavra que até chorei
Ao ver o que tinha se dado
O tal matou o menino
E o dinheiro tinha roubado
O outro inocente chorava
No irmãozinho abraçado. . .
Onde o caminho encobria
Ainda pude avistar
O malvado assassino
Correndo pra se livrar
Risquei meu burro de espora
Dei em cima pra pegar
Numa cerca de arame
Quando ele foi atravessar
Eu lacei esse bandido
Como laça um marruá. . .
Dali pra delegacia
Levei o tal amarrado
E o menininho morto
Nos meus braços carregado
Levei o seu irmãozinho
Pra provar o que foi se dado
O meu laço justiceiro
Entreguei pro delegado
Pra servir de testemunha
Daquele triste passado. . .