Do tempo que eu fui peão
Eu nem gosto de lembrar
De um transporte que eu fiz
Lá de Goiás pra Cuiabá,
Num dia de sexta-feira
Vejam só o que foi se dá
Quando a tarde foi caindo
Deu um forte temporal. . . .
Relampeava e trovejava
Clareando o mundo inteiro
O temporal foi deixando
Os animais em desespero,
Nesta viagem nós levava
Quinhentos bois pantaneiros
E na frente caminhava
Boi Fumaça traiçoeiro. . .
Mesmo embaixo de chuva
Nossa viagem continuava
Por não ter lugar de pouso
Aonde nós nos encontrava,
Meu filho era o ponteiro
E na frente caminhava
Repicando seu berrante
E a boiada acompanhava. . . .
Chegando em uma porteira
Foi assim que aconteceu
O burro não encostava
E para abrir ele desceu,
O Boi Fumaça investiu
E o menino não percebeu
Nas guampas do pantaneiro
Pro ar ele suspendeu. . .
Fiquei louco nessa hora
Quando meu filho gritou
Eu quis salvar a sua vida
Mas já não adiantou,
A guampa do Boi Fumaça
Com seu sangue avermelhou
Minhas lágrimas sentidas
Com a chuva misturou. . . .
Perdi meu filho querido
Nessa viagem traiçoeira
Mas guardei no coração
Suas palavras derradeiras,
Eu queria ser peão
Mas findou minha carreira
Papaizinho me enterre
Aqui perto da porteira. . . .
Abandonei esta lida
O prazer pra mim morreu
Mas não posso esquecer
Aquele golpe traiçoeiro,
Quando escuto um berrante
Me arrepia o corpo inteiro
Lembro do filho querido
E o tempo que eu fui boiadeiro. . . .