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Gaudério

Sidney Lima



Eu sou o naco de fumo girando no fio da faca
Sou o poncho, fui barraca, para maragato e chimango
Sou branco, ruivo ou mulato, duas misturas de raça
Sou o gosto da cachaça num trago bueno de fato

Sou um desses gaudérios de alguma alma penada
Sou passa tempo da indiada nos rodeios de domingo
Sou peão igual ao pingo e ao meio risco da vida
Que apostam a própria vida , tu me derruba, eu em vingo.

Sou o tinir da roseta esporeando o redomão
Sou o mangueiro, sou o galpão, casa grande de fazenda
Sou o vestido da prenda da donzela mais prendada
Sou o “s” de Alguma adaga nos entreveros de venda.
Sou afinação de viola nos dedo do tocador
Sou a alma do pajador junto ao calor do tição
Sou a cuia de chimarrão beijando lábios a fora
Sou o vermelho as aurora clareando no meu rincão.

Sou o rio grande do sul da peleia e da coxilha
Sou o soldado farroupilha que nunca teve quartel
Sou ruínas de São Miguel, redenção de Tiaraju
Sou o choro do pé de umbu pra alguma china qualquer.

Sou a vertente da rocha da água meia azulada
Sou a marca no pó da estrada de uma carreta chorona
Sou teclado de cordeona, sou passo de chimarrita
Sou par da prenda bonita numa vanera marcada.

Sou poeta, sou o vento, sou a lenda que persiste
Sou o homem que canta triste , sou o choro do pantanal
Sou o relincho do bagual, sou o guardião quero-quero
Eu fui talhado em pau ferro pra ser historia imortal.






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