Passando ali no campo
Vejo vários moleque jogando bola
Moicano amarelo, com a 11 nas costas
Camisa do Brasil, só que vem do Paraguai
Ou da China tanto faz, pra eles ta bom demais
Não teve pai, mas tem um sonho, vítima do abandono
Lá no morro tem olheiro só que esse olheiro é outro
É foda, saber que nas ruas tem vários “Neymar”
e as suas vidas só se limitam a roubar e a cheirar cola

Talentos, fantasmas, menino, a quebrada
A menina, na rua, sem money, prostituta
Pergunta se é o que ela quer, se vender pra um qualquer
Mas existe mulher que é puta porque quer
Sem opção, sem escolha
De ser dono ou ser dona
Em vez de dama, abre as pernas na cama
E o moleque, velocidade, habilidade
Só que usa isso, em pró do time da maldade

Talentos fantasmas, talentos fantasmas
Muito brilho no escuro dessas quebradas
Talentos fantasmas, talentos fantasmas
Talentos fantasmas, talentos fantasmas
Muito brilho no escuro dessas quebradas
Talentos fantasmas, talentos fantasma
Talentos, talentos, talentos...
A criança ainda não tem nem noção
Do que é, como é e pra que serve a ambição
Se espelha em quem ta mais perto
Sem saber se é o certo
Vai lá, admira o bandido mais velho
Cresce com essa imagem, de ver que a malandragem
Ta vendendo um crack ou portando um fuzil
É foda essa realidade ta em toda a cidade
Eu vejo a maldade espalhada no Brasil
Eu mesmo já sonhei em vestir a camisa da seleção
Neguinho é foda jogador, cantor ou ladrão
Em várias cidades existem várias crianças
E dentro dessas crianças existe muita esperança
A mão que podia ta rezando ou fazendo rima
Ta com a caixa de chiclete, lavando um para-brisa
Cada gorjeta é uma certeza que hoje não passa
Vai ter comida na mesa ou no ar vai ter fumaça

Talentos fantasmas, talentos fantasmas
Muito brilho no escuro dessas quebradas
Talentos fantasmas, talentos fantasmas
Talentos fantasmas, talentos fantasmas
Muito brilho no escuro dessas quebradas
Talentos fantasmas, talentos fantasma
Talentos, talentos, talentos

Sua vida ta resumida em uma esquina
E brilha os olhos quando vê uma família
Querendo que alguém cuidasse dele todo dia
Sem mina, família, sem money, sem fita
Na esquina era mira, alvo de polícia
Com doze, já é um homem e não vai esperar uma ONG
Pra vir tirar sua fome, esperar parado igual cone
Quem tem paciência é monge, da escola ele ta longe
Na esquina ele ta, onde os traficantes se escondem
Talentos fantasmas, talentos fantasmas
Muito brilho no escuro dessas quebradas

E essas quebradas ficando mal assombradas
Porque nelas tem vaga, pra criança caridade
Visando nosso futuro agora nesse presente
A molecada carente quer ter oportunidade

E aí autoridade, se liga aí
Da chance constatante pras nossas crianças não virem a ser
Talentos fantasmas