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Campesino

Roberto Martins

Eu nunca afrouxei a perna pra potro que corcoveia
Me criei montando em pêlo surrando só nas "oreia"
E quando o matungo roda, é que a coisa fica feia
Sou ligeirito no más, sou destes que não se enteia.

Num aparte de mangueira, tanto a pé como a cavalo
Na saída de algum brete sempre botei meu pealo
E quando a prosa é demais, eu ouço muito e me calo
Me deito em altas à noite, me acordo ao cantar do galo.

Quando faço um alambrado que espicho bem o arame
Se escapa o esticador o tombo é que mais infame
Se danço mal o fandango não importo que reclame
Em namoro só me paro no baldrame.

Se me meto na carpeta pra jogar, não jogo pouco
Se for preciso até brigo mas não entrego os meus trocos
O jogo é coisa do diabo e eu sou burro quando empaca
Já levantei de uma mesa com dez cartas na guaiaca.

Meu serviço é coisa bruta que não serve pra doutor
Nem pra estes de cola fina metido a conquistador
Vivo lavrando a boi, pisando no meu suor.
Levantando alguma vaca num fundo de um corredor.

Fui criado meio xucro, um pobre peão de estância
Venho curtido de estrada de tanto encurtar distancia
Respeitando a minha estampa no amor pela querencia
Sou feito de pau a pique com o Rio Grande na consciência.






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