letra e música: Daniel Galli
dou-lhe uma... dou-lhe duas... dou-lhe três!
eu posei pra um holandês que pintou-me certa vez, atirando-me à vara
pois só dois séculos depois é que fui avaliada pelos olhos da cara
eu, uma pérola distinta, atingida pela tinta que cobria a high society
linda, assediada, admirada, mesmo estando pendurada
eu era a jóia de uma obra de arte
dou-lhe uma... dou-lhe duas... dou-lhe três!
tudo ia mais ou menos bem até que um desalmado sem vintém
numa festa a fantasia, roubou tudo o que podia, não deixou passar ninguém
a pulseira da condessa, a tiara da rainha e, de quebra, me levou também
fugiu para o Brasil e a história então aqui vira novela
uma nova rica arrematou-me por uma bagatela
passa o tempo, anos 30, eu no Rio, estava já de volta à alta roda
vestidos querendo casar comigo no embalo dos umbigos de Carmen e Aurora
confesso que já estava acostumada a ser um adereço de carnaval
quando a falência abocanhou minha senhora que mandou-me à penhora
na caixa econômica federal
dou-lhe uma... dou-lhe duas... dou-lhe três!
dentro da caixa que era um prédio, a rotina era um tédio, não acontecia nada
jóias e mais jóias deprimidas, jogando paciência, vendo fitas alugadas
uma pérola no ostracismo, é só um eufemismo pra lustrar a minha vida
feito uma qualquer, bijuteria, juro que não merecia,
mas na bacia das almas seria certamente oferecida
até que vi um filme um belo dia e nele aparecia uma pedra se passando por moi
na orelha da Scarlett Johannson, quem diria? quero um lenço, quero um lenço pra chorar
estava aos prantos quando um bracelete grosso, um exagero mal gosto, resolveu tripudiar
me disse que era pra ficar calada pois chegara a minha hora
o leilão já ia começar
eu não valho mais nenhum tostão
quem me compraria num leilão
minha mãe foi uma ostra e o meu pai um pobre cisco, então
vamos acabar logo com isso!
dou-lhe uma... dou-lhe duas... dou-lhe três!