Passei de relance e vi a pessoa ali
Parada numa história viva
Com um ar de tempo perdido
Que me amarrou na minha agonia
Era uma pessoa dos pés à cabeça
Amortalhada no fim da alegria
Cabelos e olhos e lábios e dentes
Na clássica pose da fotografia
Aonde vão meus olhos pedindo
O que só na fonte se pode beber?
Aonde vão os meus olhos chorando
O que só no riso irão compreender?
Olhei nos olhos daquela pessoa
Irmã do meu choro mais antigo
E neles a sombra longa nascia
No ponto em que a minha crescia comigo
Aonde vão meus olhos secando
Se a vista tem margem pra se mergulhar?
Aonde vão meus olhos buscando
O que só no fundo se pode encontrar?
Vi no espelho a tal criatura
aquela figura não era pra ver
Vi a pessoa que eu vim encontrar
Vi a pessoa que eu era pra ser
Composição: Rebeca Canhestro / Carlos Francisco de Morais