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Martelo

Raimundo Fagner

Pena leve prega a batida do martelo
Martelo de carpinteiro pena leve cela
Martelo de homem simples só pega
Pancada do martelo que o juiz prega

Pena escreve a batida do martelo
Pancada do martelo prega pesada pena
Batida do martelo prega a peça
Pancada do martelo causa pena

Homem sem cabeça, cabeça de prego
Há pena sem cela e cela sem pena
A pena e o martelo, martelo e a pena
A pena é do juiz, o carpinteiro é do martelo

Bandido não tem pena, martelo de dor
Sentença amordaçada, pena sem valor
A pena que faz versos martela o coração
A dor que vale a pena martelo de paixão

Martelo de carpinteiro e pena
Martelo de juiz dita a pena
Marginal martela a pena e diz
Eu hoje
Eu quebro a pena com o martelo do juiz

Ordem no tribunal! Ordem!

Todo Mundo quer viver feliz
Em Gaza ou em Jerusalém
E eu aqui na minha casa, nessa terra de ninguém, também
Vendo as fotos das crianças mortas nos jornais
O Oriente Médio não tem paz
Mas tem menos ou tem mais
Nessa parte aqui do mapa

Nossas crianças mortas já não saem nem na capa
Só saem nos jornais de vez em quando
Se o crime for bem bárbaro, com câmera filmando
Feito João Roberto de três anos
No carro dos seus pais
Metralhados por policiais
Que confundiram uma criança
E sua família com bandidos
Depois foram julgados e absolvidos
Juiz não teve pena
Nem responsabilidade

Tá faltando pena e tá sobrando impunidade
Impunidade é a mãe da covardia
No país verde amarelo
Tem inocente na cela
E tem bandido no castelo

Bandido não tem pena, martelo de dor ...

Arrastado pelo carro João Helio
Da janela Isabela
E quantos mais anônimos nas roças, nas favelas
Crianças estupradas, famílias destroçadas
Chacinas, extermínios e ninguém faz nada

Ninguém perdeu o sono
Por saber que seu milhão
Deixou grávida e sem leite
E natimortos pelo chão
Esgoto a céu aberto
Crack, pó, fuzil, pistola
Prostitutas de 10 anos, estudantes sem escola
Se matam inocentes, se a doméstica é espancada
Se a presa adolescente vai parar na cela errada
Violentada pelos outros presos
Todo mundo sabe tudo mas ninguém sabe de nada

Tá faltando pena, tá faltando pena
Quando um bandido queima
Quando a polícia invade
Lá na periferia ou no centro da cidade
Lá na cidade grande
Ou na cidade pequena

Tá me dando pena das crianças que morreram
E tá me dando pena das crianças que nasceram
Que futuro elas vão ter
Nesse tipo de sistema
Onde pra ganhar dinheiro tudo vale a pena
Tudo vale a pena
Porque a alma é tão pequena
Tudo vale a pena porque a alma é tão pequena

Composição: Antonio Silva de Oliveira/Gabriel Contino/Joao Adamor Dias Neves





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