Afino as cordas do pinho nesta milonga campeira
Mais xucra que uma tronqueira curtida pelos baguais
Canto sangue de ancestrais de onde brotou o rio grande
Enquanto a alma comande meu canto não para mais
É a voz dos pais dos meus pais que escute por onde ande.
Agora misto de bronze do passado de onde venho
Raízes do antigo lenho de onde brotou ramo e flor
Há um sangue conquistador de luzes e de espenhóis
Luzindo como faróis em nossa origem terrunha
Avoeiras é testemunhas timbradas de luz e sóis.
Meu candeeiro é luz de ouro, lunar do índio sepé
Aquele que pôs de pé as catedrais missioneiras
Venho de Pinto Bandeira , de Bento e de Canabarro
E se mais longe me esbarro venho de Borges do canto
Do rancho que hoje levanto de esteio, quinchas e barro.
Meu bisavô levantou de lança em punho enristada
Na sesmaria estirada nos quatro pontos cardeais
Foi bagual entre os baguais, foi pedra em picos de serra
Plantou estância na terra regadas com seus suor
Na paz campeiro e pastor e um tigre em tempos de guerra.
Monto fletes que são crias das tropilhas chimarronas
Que eram senhoras e domas da terra quando em divisa
E seu passo quando pisa campos e flores e trevais,
Sou rastro dos ancestrais que ergueram o mesmo repique
Os ranchos de pau a pique e os sinos das catedrais.
Venho de longe dos tempos, muito embora os tempos novos
Sou cria dos sete povos, sou índio branco e mestiço
E talvez seja por isso que quando a noite se alonga
Sou urutau e araponga, João de narro e siriema
No sangue feito poema num bordonear de milonga.