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Carta do Pracinha

Pedro Bento e Zé da estrada

Na guerra
Naquela forte metralha
Na encarniçada batalha
Muitos homens vão tombando
É nesta mesma guerra
Bem longe de sua terra
Que um pracinha está lutando
E no campo de perigo
Não temia o inimigo
O pracinha ia avançando
Ao passar numa trincheira
Uma bala certeira
Atinge o pobre pracinha
E caído no capim
Compreende que é seu fim
Lembra de sua mãezinha
Com fervor e muita fé
Num pedaço de papel
Foi escrevendo essas linhas

Todas cartas até agora
Que eu escrevi pra senhora
Levou somente alegria
Ao escrever que beleza
Não pensava que a tristeza
Lhe magoasse um certo dia
Mas veja só minha sorte
Eu vim encontrar com a morte
Não tenho mais serventia

Sim mãezinha estou deitado
Por uma bala varado
Eu sei que me vou agora
Mas com meu amor profundo
Não quero ir pro outro mundo
Sem despedir da senhora
Vai meu ultimo abraço
Por causa de um balaço
Deste mundo eu vou embora

Minha mão está a tremer
Não posso mais escrever
Adeus minha mãe querida
Aqui será o meu enterro
Perdoai todos meus erros
Se eu a magoei na vida
Os meus colegas me chamam
Minhas lágrimas derramam
É a minha despedida

Vejo um caminho estreitinho
Todo cercado de espinho
E eu vejo o raiar na aurora
Vejo uma nuvem um véu
Se eu chegar até no céu
Bem lá no reino da glória
Pedirei neste segundo
Um lugar pras mães do mundo
Junto com Nossa Senhora

Composição: Zé Paioça





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