Pedro Abrunhosa nasceu no Porto a 20 de Dezembro de 1960.
Não, esta história não começa com uma banda de garagem. No início, foi o Conservatório.
Pedro Abrunhosa escolheu o caminho mais difícil. Não começou por ganhar fama na música ligeira, para se aventurar depois em projectos mais ousados. Fez ao contrário: aos 16 anos estudava Análise, Composição e História da Música com Álvaro Salazar e Jorge Peixinho, na Escola de Música do Porto. Depois, no Conservatório, estudou Composição com Cândido Lima, enquanto era convidado para integrar o Grupo de Música Contemporânea de Madrid, do compositor Enrique X. Macias, com quem participou em espectáculos em Espanha e Portugal.
Entrou na música pela via erudita. E quando chegou ao jazz era um erudito a tocar jazz. Em 1984 foi para Madrid, aprender com o contrabaixista Todd Coolman e os músicos Joe Hunt, Wallace Rooney, Gerry Nyewood e Steve Brown. E depois com Adriano Aguiar e Alejandro Erlich Oliva, seus mestres de contrabaixo. Foram os anos do jazz. Participou em seminários internacionais, formou bandas, tocou em orquestras, realizou tournées. Colaborou com grandes figuras como Paul Motion, Bill Frisell, Joe Lovano, David Liebman, Billy Hart. Ensinou contrabaixo na escola do Hot Club de Lisboa, realizou e produziu o programa “Até Jazz”, no Rádio Clube do Porto. Fundou a Escola de Jazz do Porto e a “Cool Jazz Orchestra”, que viria a transformar-se em “Pedro Abrunhosa e a Máquina do Som”, que executava temas originais.
A viagem seguinte foram os Bandemónio. E o álbum a que chamou Viagens, editado em 1994. Um disco de rock cheio de jazz e de vida. Pedro Abrunhosa sempre viajou. Pelos vários continentes da música, tal como pelo mundo, com uma Renault 4L em segunda mão ou à boleia, com uma mochila às costas. Ao contrário de muitos outros, o seu percurso musical foi do mais complexo ao mais simples, rumo à depuração da linguagem, com destino à essência das coisas. Quando chegou ao rock trazia a mochila cheia de História e de rigor.
Viagens atingiu a tripla Platina, com mais de 140 mil exemplares vendidos. Pedro Abrunhosa comparecia finalmente ao encontro com as grandes audiências. Tinha algo para lhes dizer, e foi entendido.
Esse pacto com as multidões nunca mais foi quebrado. Em 1995 lança o maxi-single F e em 1996 o álbum Tempo, que vendeu, numa semana, 80 mil exemplares. Atingiu a quádrupla Platina, com vendas a ultrapassar os 180 mil.
Em 1999 é lançado Silêncio e em 2002 Momento, respectivamente platina e dupla platina. O álbum triplo Palco, editado em 2003 e contendo gravações de concertos ao vivo, vendeu mais de 70 mil unidades, e Intimidade, DVD editado em 2005 e gravado ao vivo na inauguração da Casa da Música, atinge idêntico êxito.
De todos os discos, há temas que se tornam hinos, estribilhos, adágios. Há temas que se tornam lendas. “Se eu fosse um dia o teu olhar”, do álbum Tempo, é usado no filme “Adão e Eva”, de Joaquim Leitão, que se tornou um êxito de bilheteira. Editada no Brasil, a música vendeu mais de 800 mil cópias.
As canções de Pedro Abrunhosa estão cheias de histórias, felizes e infelizes, únicas e intensas. Talvez por isso o cinema as tenha atraído. Além de “Adão e Eva”, “A Carta”, de Manoel de Oliveira, que ganhou o Grande Prémio do Júri do Festival de Cannes, tem banda sonora de Abrunhosa (que participa como actor, contracenando com Chiara Mastroiani), bem como “L’Amour en Latin”, de Serge Abramovic ou “Novo Mundo”, de António. E as peças de teatro “Possessos de Amor”, “A Teia”, “O Aniversário de Infanta”, “150 anos de Bonfim”.
Nos últimos anos, Abrunhosa editou livros, realizou ciclos de conferências, trabalhou com músicos de vários géneros e geografias.
Viagens contou com a participação de Maceo Parker, saxofonista deJames Brown. Para o álbum Tempo, Pedro trabalhou em Minneapolis, Memphis e Nova Iorque com toda a banda dePrince, os New Power Generation, e Tom Tucker, o seu engenheiro principal, com os quais fez uma digressão.
Apresentou-se em espectáculo com Caetano Veloso e tocou com outros músicos brasileiros como Lenine, Zélia Duncan, Elba Ramalho, Zeca Baleiro, Sandra de Sá, Syang, Rio Soul.
Luz, editado em Junho de 2007, voltou a ter a participação dos The Hornheads, a secção de sopros de Prince, depois de terem já participado nos discos Tempo e Palco.
Em Julho de 2007, Nelly Furtado incluiu “Tudo O Que Eu Te Dou” na sua playlist, destacando-a como uma das suas canções preferidas de sempre. Pedro Abrunhosa cantou em dueto com a luso-canadiana.
Luz representa uma nova fase que se abre perante a conjuntura social, estética e humana, a que o mundo, entretanto, forçou o compositor.
O disco de 2007 representa, assim, uma metáfora sobre as sombras criadas por esta nova realidade. É, pois, mais uma Luz espiritual, por vezes negra, do que o mero conceito substantivo a que a palavra poderá induzir. É um caminho possível, é uma reverberação lançada sob os nossos pés, iluminando as noites, as cidades, as almas.
Composto e escrito, como sempre, por Pedro Abrunhosa, Luz foi disco de ouro logo na semana de lançamento, tendo subido ao 1º lugar do top nacional de vendas. Luz sucede a Momento. O registo editado em 2002 teve mais de 90.000 cópias vendidas.
Acompanhado, desde 1991, pelos Bandemónio, constituídos por Cláudio Souto nas teclas, Edgar Caramelo no saxofone tenor, João André no baixo, Marco Nunes nas guitarras e Pedro Martins na bateria, Pedro Abrunhosa afirma-se cada vez mais como cantautor, sendo, simultaneamente, intérprete na voz e no piano.
Considera que a música não é neutra. É uma ideologia de fraternidade. Não se é músico sem o sentido de pertencer a uma família e sem se estar comprometido com o mundo.
Para Abrunhosa, a música é uma viagem que não se faz sozinho, apesar de o ter levado aos limites da originalidade. A uma ilha exclusiva.