Misterioso e belo tempo de criança
Brincar sonhando de ser grande e ser doutor
Saborear na mãos dos pais a confiança
E ter a primavera toda numa flor
Uma gotinha de orvalho era um brilhante
E as goteiras do beiral, mil soldadinhos
Vivia com eternidade, um só instante
Um grilo e um louva-deus, meus amiguinhos
Vassoura usada, cavalinho de corrida
A professora, mais que um gênio de Aladin
O quintalzinho da vovó, maior que a vida
A igrejinha, uma catedral pra mim
Tudo era puro, tão verdade, a ilusão
Nossa pobreza era a riqueza mais contente
Mesmo brincando de polícia e de ladrão
Nunca a maldade nos tocou nem levemente
A gente cresce, parece fechar-se a porta
Desse país, aonde o sonho tudo alcança
Por isso hoje, uma coisa só importa
Deixar o coração de novo ser criança
Assim se é mesmo vivendo desenganos
Maior que a grandeza, embora pequenino
A gente é feliz, não vê passar os anos
Se nosso coração for brincar, sempre um menino