Jeito
Somente jeito e alma de campeiro
Retos traços, sem suaves
Como falquejos de enxó, na cara
Meu bronze moreno, curtido pela fumaça
Dos entreveiros dos homens
Pelos caminhos da vida
Com sóis e sóis
E minuanos prenhes de chuva
Prenhes de chuva e cansaços
que não te quebraram o porte
Nem diminuiram a altivez
Garboso e ereto
Essa é a tua estampa
E ela é a nossa herença charrua
Mas estás só
Pobre, triste e só
Na solidão do pampa
Tão pobre, tão triste e tão
irremediavelmente só
Na solidão pampeana
Que esta minh'alma inteira se levanta
E, sem outra voz mais chucra que te cante
Velho Táta
Corre as vars do peito
E só, porque do jeito de cantar
É meu o jeito triste
Segue te vendo em voz alta:
Tens a testa, velho Táta
Como a prosa nas frias noites campeiras
Melena, moura prateada
Pela luz do sol da idade
É como quinta de estância
Se caprichosa
Tens asas por sobrancelhas
A ruflar tons de ameaças
Garbo de ave de rapina
Que traz ameaças no porte
O nariz, de gavião mouto
Visto de lado
De frente, é um velho angico parado
Teus olhos, meu velho Táta,
Verdes gateados
São velhos fogões tropeiros
Acesos juntos na pampa
Nos fundos longes de um campo
Estes teus olhos tão verdes
Que m tão verde olhar esgarça
Como a embalar mil recuerdos e sonho
Te encaneceram
É meu o teu olhar
Esse que engole horizontes
Sem saborear os caminhos
Que traz lágrimas timbradas
Na voz que teve outrora
Quanta dor, meu velho Táta,
Eu vi dar noz na tua garganta
Meu sol de vida que rumbeia
Ao norte, oeste de um fim
Minha réstea de luz
Tão bonita
De um dia que foi tão claro
Tua palavra, velho Táta,
Num conselho
Teve sempre, para mim,
O frescor de sombra mansa
Num verão de tarde braba
Na estrada quando encoxilha
E o calor da tua peitarra
Quando o próprio inverno treme
Tem sabor de muitos ponchos
Tens os braços, velho Táta,
Como galhos de umbu em coxilha alta
Abertos
Segurando os horizontes
Abertos p'ra essas beiradas
Nas quais se deita meu pampa
Que nos criaste querendo
E garantiste p'ra nós