Quando as éguas já não deem mais cria
nem desçam mais as canas de taquara;
quando nenhum garrão saiba de esporas
com o luxo em cabrestilhos de ouro e prata.
Quando não mais se saiba ou sinta a poeira
de uma cavalaria inteira numa carga
quando ninguém já não entenda nada
de rodeios, de tropas, de soalheiras.
Quando já tenham ido para sempre
os gaúchos centauros da minha raça;
os que por profissão faziam guerra
e que por ideal fizeram Pátria.
Os que deixaram sob o sol da vida
e sob a luz da lua serenatas;
os de histórias de amores
e entreveiros nas patriadas
os de lança e guitarra.
Quando já tenham ido para sempre
sob o auri-verde intrínseco da glória
quando o último gaúcho haja morrido
delirando com cargas sem história.
Eu tão somente que saberei então
aonde encontrá-los os mesmos sempre
cara, pingo e lanças
eu tão somente que saberei então
aonde encontrar os de lança e guitarra
Hei de encontrá-los lá no céu da glória
mundo traquilo e celestial das almas
porque este mundo ficou mui pequeno
para a menor de todas as suas cargas.
E estarão lá a galopar nos ventos
relâmpagos por lanças e, nessa hora,
hão de pechar as nuvens com seus fletes
num retinir de estrelas por esporas.
E farão trepidar o nosso céu
na carga heróica e eterna até o nada
e estarão junto de Deus, bem perto
e vigiando sempre os de lança e guitarra.