Minha guitarra é de fogo cospe sangue pela boca
Com cordas feitas de nervos queima os dedos de quem toca
Tem relinchos de cavalo na furna escura da caixa
E gritos de bugres loucos garniçar da extinta raça.
As taperas assombradas nas noites de espera e medo
Vem rondar minha guitarra quando o sangue se aferventa
Para o canto misterioso de derrama de instrumento
Como se a força da chuva viesse tocada de vento.
Quero cantar meu verso manso e esta guitarra aporreada
Sempre me sai de relance mandando o lombo na estrada
As tropelias charruas bailam sempre nos meus dedos
Quando ensanguento mensagens nas milongas que ponteio
A voz dos meus bisavós gritando no continente
Assombram esta guitarra furado a taipa do tempo.
Por isso minha guitarra tem tanto calor por dentro
E basta soprar a brasa que seu bojo se incendeia
Mas seus acordes de fogo queimam como palha seca
Iguais a versos amargos de cantar penas a penas.
Quero cantar meu verso manso e esta guitarra aporreada
Sempre me sai de relance mandando o lombo na estrada
Minha guitarra ciumenta, meu doce amargo instrumento
Chimarrão de erva caúna potro maleva e coiceiro
Quando busco notas doces me vem as chinas do incêndio
Bagual que nunca se amansa por mais golpeado que seja.
Quero cantar meu verso manso e esta guitarra aporreada
Sempre me sai de relance mandando o lombo na estrada