Quando acaricio este frasco moreno
Olhando o sereno no campo a brilhar
Este gosto amargo de essência de erva
É o que conserva o dom de chimarrear
Primeiro é secada, depois é socada
Além de cancheada pelas mesmas mãos
E, de manhã cedo, sabe o segredo
De cevar a dedo um bom chimarrão
Sei que em cada mate o tempo nos leva
Desmorona a erva e a água esfria
Então bato as brasas, reacendo o fogo
Faço um mate novo pro meu dia a dia
Quando me adelongo alisando o porongo
Vou de gole em gole até a bomba roncar
No calor do fogo, no chio da cambona
Manhã chimarreando, fico a contemplar
Pois essa herança vem desde criança
Motivos que tenho para levantar
Meus cabelos brancos de tempo e fumaça
Símbolo da raça, nunca vou negar
Sei que em cada mate o tempo nos leva
Um dia, mateando com a minha prenda
Lhe falei, contigo quero sempre estar
Na minha outra vida, depois da passagem
Pra sempre tua imagem eu quero levar
Me disse a parceira, se fores primeiro
Pra o chão derradeiro, se Deus te chamar
Põe erva na cuia, vá aquecendo a água
Vá cevando um mate para me esperar
Sei que em cada mate o tempo nos leva