Ninguém te viu sair quando amanheceu
Daquele arranha-céu onde nada era seu
Neblina na Paulista com Consolação
Desfigurava o rosto dos cidadãos
Que nem a obesidade do belo bebê
No colo da babá que fingiu não te ver
Freqüência modulada, assalto ao Banco Central
Tocava uma canção que se ouvia mal:
Lei é lei, dogma é dogma
Louco é louco, dogma é dogma
Bobo é bobo, dogma é dogma
Dogma é dogma, dogma é dogma
A ligação anônima no celular
Insígnias neonazistas no ar
Por entre os prédios lúgubres dessa cidade
Não se distingue bem o bem da maldade
Foi quando alguma coisa sem destino, incerta
Te pegou desligada, sonhando desperta
O asfalto pegou fogo feito capim do cerrado
O vento soprou um mantra desesperado...
Nos acordes dos primeiros raios de sol
Seu grito entre o sustenido e o bemol
Fez dançar as partículas de poluição
Espantou o pardal do fio de alta-tensão
A TV explorava a tua imagem
Tal qual um indigente, gente sem identidade
Na porta entreaberta do botequim
Alguém cantou mais ou menos assim:
Lei é lei, dogma é dogma
Louco é louco, dogma é dogma
Bobo é bobo, dogma é dogma
Dogma é dogma, dogma é dogma