Nem bem desponta a barra da lavorada
Bordando de prateado os pinheirais
Bando da galha revoando nas galhadas
E o gado inquieto muge nos curais.
Despertam os carreteiros nas pousadas
Onde talvez não voltem nunca mais.
Eu também já fui menino carreteiro
Você não acreditam, pois lhe juro
De sol a sol pedido nos sendeiros
Muitas vezes tomando mate puro
Tendo de dia a luz do mundo inteiro
Tendo de noite a imensidão do escuro
Seu vulto carreteiro é conhecido
Seu nome carreteiro é venerado
Teus casos carreteiros repetido
Na glorificação do teu passado
Falado:
Carreteiro herói da minha terra
Bandeirante do pampa estremecido
Desbravando fronteiras e serras
Tornaste o teu rio grande conhecido
Trabalhador na paz e na guerra
Este rincão te canta agradecido
Cantado:
Noites de inverno na imensidão deitada
O gado inquieto muge nos currais
Geme o urutau saltando nas ramadas
Soluça a juriti nos taquarais.
Despertam os carreteiros nas pousadas
Onde talvez não voltem nunca mais.
De pés no chão bombacha remendada
Facão no cinto, porungo na mão
A palha e o fumo, a chaleira queimada
O charque, a trempe, a brasa de tição
Soluça o carreteiro uma toada
Gemendo de saudade o coração.