Minha mulher foi passear lá na cidade
Visitou uma comadre que tava de aniversario
Quando voltou veio cheia de euforia
A partir daquele dia começou a reclamar.
Ela enguiçou de querer mora no povo
Com brigas e retovo me deixou azucrinado
Além da gente viver sempre em guerra
Arrendei a minha terra e vendi um ponta de gado
Ca na cidade morando em apartamento
Começando meu sofrimento fiquei todo desnorteado
Não vejo sol e me da um sensação
De morar num alçapão de viver dependurado.
Minha guaiaca que andava cheia ta vazia
Pagando pras gurias faculdade e mestrado
E a mais nova de paixão já ta perdida
Namorando um bunda caída maconheiro, pé rapado
Minha mulher ta mexendo na internet
Vai no shopping, larga cheque e a conta vem pra mim
E o meu filho só quer jogar pin pong
Diz que curtiu uma ong e que ser manequim
Barbaridade não é vida de cristão
Que foi criado em galpão comendo ovo de touro
É desaforo estou liso e ombro quente
E até minha própria gente ta tirando o meu couro
Minha bombacha ta la num canto socada
Toda mofa e amarrotada pra minha mulher lavar
Ela chamou um moto boy ventania
Levou pra lavanderia e eu tive que pagar.
E no apartamento que eu mor contra gosto
Tem condômino e imposto e carece reformar
Tem luz e água, empregada e telefone
E pra não sujar meu nome sou obrigado a pagar.
Barbaridade eu to com acorda no pescoço
Com esse angu de caroço ta difícil de engolir
To indo embora já chega de mordomia
Dou prazo de quinze dias pra quem quiser me seguir.
Já fui ao banco e encerei a minha conta
Já estou de mala pronta acabei com a sangria
Volto pro campo que eu deixei arrendado
Meu lugar abençoado onde só tem alegria
Com chapéu tapeado amanhã to indo embora
Volto a viver la fora onde tenho de tudo
E pra quem fica desejo felicidade
Eu não sirvo pra cidade e não sou pai de cascudo