Num quarto solitário
Na Rua do Rosário
Com um 13 bem na porta
Um turco lá morou
Disse o seu patrício
Que ele morreu no hospício
E cheio de aflição
Porque engoliu um tostão.
O seu nome era Rachid,
Abdula ou Farid
Nascido na Turquia
Criado na Bahia
Ele era prestamista e vigarista
Nunca perdeu de vista
O bolso de ninguém
Por causa de um vintém.
Seu quarto todo escrito
Com contas de somar
E de multiplicar
Não tinha dividir
E por economia
Pra não gastar seu sangue
Com as pulgas já famintas
Ficava sem dormir.
Em uma caixa escrita
Deixava como herança
Ao filho ainda criança
As contas por cobrar
Ele era precavido
Pro caixão ser pequeno
Morreu bem decidido
De cócoras, encolhido. E o pesado 13
Em uma sexta-feira
Também num dia 13
Faz hoje quase um ano
Que teve o intestino
Por choque fraturado
Pois foi atropelado
Por um aeroplano.
Num dia em que um amigo
Ao lhe pedir abrigo
Ao ver aberta a porta
Quase morreu de horror
Pois viu por sobre a cama
O terno de Farid
E viu dependurado
Abdula num cabide