Nas minhas andanças teatinas de cantor e guitarreiro
Na estância de um riograndense um gaúcho missioneiro
No estado de Mato-Grosso povo bom e hospitaleiro
É costume nessa terra fazer farra e brincadeira
Não deixar nenhum domingo sem correr uma carreira
Essência do meu Rio Grande que ultrapassou as fronteiras
Me perguntou o fazendeiro se eu era carreirista
Se eu só cantava verso ou se só era repentista
Se eu queria conhecero os fletes de Bela Vista
Respondi muito contente cheio de satisfação
Me mostre a tua tropilha que eu te dou definição
Ao me mostrar os parelheiros fui lhe dando explicação
Coisa linda essa tropilhao outra no mundo eu não vi
Sangue, raça, procedência, caderno de pedigree
E um peticinho sem raça que eu batizei Mitaí
Esse petiço pequeno de um metro e pouco de altura
Logo chamava atenção aquela mini-figura
Que a gurizada cuidava pra correr por rapadura
Cantando pelos bolichos escutei um comentário
Que trouxeram de Dourados um petiço adversário
Que correra em todo o Estado e não encontrara contrário
Me apresentaram na cancha o tal petiço monarca
Chegaram alarifeando com gritaria e fuzarca
Sem parelha, sem tamanho não tinha pêlo e nem marca
Nós até damos risada respondendo no momento
Corremos com Mitaí pequeno mas de talento
Tamanho meus companheiros hoje não é documento
Nós atamos a tal carreira e o povo dava risada
Davam luz em qualquer tiro e até dobravam parada
Estendi o pala na cancha e mandei que viesse a indiada
Fui jogando o que eu tinha faca, revólver, violão
Joguei até a minha cordeona que é de minha estimação
Joguei um bom sem boiada, uma porca e dois leitão
Só não joguei minha alma porque eu tenho devoção
Quando gritaram "se vieram" chegou a hora de eu rir
Carreira mais desigual na minha vida eu não vi
Jogou fora o rebenque o jóquei do Mitaí
E os paraguai comentavam "corre, porã ñamembuí"
E assim foi a tal carreira tão discutida e falada
Nós com o dinheiro no bolso e outros de cabeça inchada
Nas patas do Mitaí já tenho uns boi na invernada!