O Melvins é uma das bandas que ficou conhecida mais pela sua "importância histórica" do que propriamente pela sua música. Formado em 1985 em Aberdeen, mesma cidade onde nasceu Kurt Cobain, o Melvins é sempre mencionado como a grande influência do Nirvana, já que Buzz Osbourne e Dale Crover eram amigos de Kurt e Krist Novoselic. De fato, Dale Crover chegou a participar de formações iniciais do Nirvana.
As conexões não param no Nirvana. Matt Lukin, o primeiro baixista primeiro baixista do Melvins, deixou a banda para formar o Mudhoney. O Melvins ainda é citado como influência por praticamente todas as bandas a surgirem da cena de Seattle, do Green River ao Mudhoney, do Nirvana ao Soundgarden.
Mas a verdade é que o Melvins seguiu seu próprio caminho e atravessou os anos 90, construindo uma reputação de grande dignidade na indústria da música e no underground americano.
Desde o início o Melvins tocava um híbrido de punk rock e heavy metal, bastante pesado e lento com óbvia influência de Black Sabbath. A banda também chamava a atenção pelos seus shows imprevisíveis. Não era raro a banda tocar Músicas Folclóricas ou Country e logo em seguida emendar jam's de mais de 10 minutos de pura barulheira, simplesmente para chatear o público.
Logo em 1986 gravam o seu primeiro álbum, pela gravadora independente C/Z Records. Nessa época a formação da banda era Buzz Osborne na guitarra e vocal, Matt Lukin no baixo e Dale Crover na bateria. O disco, simplesmente chamado Ten Songs foi gravado ao vivo em dois canais, com produção extremamente precária e a custo baixíssimo.
No ano seguinte, já pela gravadora Boner, foi lançado o que hoje é encarado como o álbum de estréia da banda, Gluey Porch Treatments, com a mesma formação. O disco teve uma produção um pouco mais cuidada e teve boa receptividade na costa oeste americana, com o Melvins embarcando numa extensiva turnê naquela região dos EUA.
Em 1989, Matt Lukin deixa a banda para formar o Mudhoney enquanto o Melvins se restabelece em San Francisco, na California para gravar seu próximo disco. Ozma, lançado naquele ano, foi um dos melhores discos da cena underground lançados naquele ano, exatamente na época em que a cena de Seattle começava a chamar a atenção na Europa. O som seguia a tendência do disco anterior, com muito peso. Para o lugar de Matt Lukin, a banda contou com a baixista Lori "Lorax" Black" (filha da atriz Shirley Temple).
Bullhead, lançado em 1991 não trazia grandes evoluções, mas aprimorava e consolidava a do Melvins. No mesmo ano sai o EP Eggnogg, que mantém a qualidade de seus primeros discos, mas recebe pouca atenção. No fim daquele ano o Nirvana atingia o estrelado com o álbum Nevermind, que abriria as portas para várias outras bandas de Seattle. Mas enquanto todos os discípulos do Melvins atingiam o sucesso aliando peso e melodia, a música do Melvins não possuia o formato pop, passando a margem de qualquer possibilidade de alcançar sucesso comercial.
Em 1992, Lori sai da banda e começa um verdadeiro troca-troca de baixistas. Primeiro foi Tom Flyn, que logo deixou a banda para a entrada de Joe Preston. Naquele ano, Melvins inova com o álbum Lysol, um álbum conceitual de apenas uma faixa ao longo de seus 31 minutos. Foi o último disco da banda pela Boner Records, que ainda em 1992 lançou os EP's Dale Crover, King Buzzo e Joe Preston. Esses três EP's solo foram inspirados (até nas capas) nos álbuns solo dos integrantes do KISS.
Por influência do amigo Kurt Cobain, o Melvins assina contrato com uma grande gravadora, a Atlantic. Kurt participou tocando guitarra e percussão e co-produziu juntamente com o próprio Melvins o álbum Houdini, lançado em 1993.
Mesmo sendo lançado por uma grande gravadora, a banda não mudou muito o seu som, mantendo o tradicional peso e, segundo os críticos da CMJ "fizeram um álbum tão lento e pesadão que faz o Black Sabbath parecer uma banda pop".
Nessa época, descontente com o baixista Joe Preston, a banda chama de volta Lori Black para as gravações de Houdini, e em seguida Mark Deutrom torna-se o baixista do Melvins.
Houdini foi reconhecido com um dos melhores álbuns da carreira do Melvins e foi o disco de maior vendagem da banda até então, embora não tenha atingido um grande público. Depois de uma participação discreta no mega festival alternativo Lollapalooza, o Melvins retorna em 1994 com o álbum Prick, bastante experimental, mesmo para os padrões do Melvins. O disco era difícil de ser ouvido mesmo pelos fãs mais radicais da banda, devido quase inexistência de estruturas melódicas. Esse disco foi lançado pela gravadora independente Amphetamine Reptile, mesmo com a banda permanecendo sob contrato com a Atlantic.
Seu segundo álbum pela Atlantic, Stoner Witch é lançado em 1996 e desta vez é muito bem recebido pela crítica e fãs, que consideram as composições deste disco as mais maduras da banda até então. Nesse ano, o Melvins ganha destaque ao ser a banda de abertura da turnê do KISS, que inicialmente contaria com o Stone Temple Pilots.
Mas o volume de vendas de discos nunca foi o forte do Melvins e com o declínio de popularidade do rock alternativo, Stag, de 1996 foi o último disco deles por uma grande gravadora. Stag foi um dos mais variados trabalhos do Melvins, com uso de cítara, trumpete, teclados e sintetizadores. Algumas experiências deram certo, outras deixaram a desejar (os sintetizadores), o que fez de Stag um álbum bastante irregular.
De volta a cena independente, o Melvins lança Honky em 1997 pela Amphetamine Reptile, que foi o útlimo álbum da banda com o baixista Mark Deustrom que é substituído por Kevin Rutamanis. Durante todos os meses de 1998 o Melvins lançou uma série de singles, reunidos no fim ano em um álbum duplo. Ainda naquele ano a banda participa mega-festival Ozzfest em 1998 e assina contrato com a Ipecac Records, gravadora pertencente a Mike Patton, parceiro de Buzz no Fantômas.
O projeto com a Ipecac é bastante ambicioso, com uma trilogia de álbuns lançados a partir de 1999 com intervalos de apenas alguns meses entre os lançamentos. O primeiro deles é The Maggot, que segue o som mais tradicional do Melvins. The Bootlicker segue uma trilha mais variada, lembrando o álbum Stag. The Crybaby, o disco que encerra a trilogia, também é bem variado e imprevisível, contendo uma gama de convidados especiais como integrantes das bandas Tool, Jesus Lizard e o próprio Mike Patton. Um dos lances curiosos de The Crybaby é o cover bastante fiel de Smells Like Teen Spirit do Nirvana. Ainda em 2000, Gluey Porch Treatments, há muitos anos fora de catálogo, volta ao mercado em edição caprichada contendo inúmeras faixas inéditas.
O ciclo do Melvins na Ipecac é momentaneamente interrompido em 2001, quando é lançado o álbum Electroretard pela gravadora Man's Ruin. Electroretard pode ser encarado como uma coletânea, contém regravações de músicas antigas do Melvins, além de alguns covers, com a banda explorando o uso de efeitos eletrônicos nos arranjos.
Os dois próximos lançamentos do Melvins são ao vivo, o primeiro deles, The Colossus of Destiny, é mais uma estranheza típica da banda: consiste em uma única faixa com 59 minutos de barulheira sem melodia. Já Millennium Masterwork, de 2002, reúne Melvins e Fantômas no mesmo disco. O show que deu origem ao disco foi uma apresentação das duas bandas juntas no mesmo palco, em comemoração aos 5 anos da Ipecac.
Uma semana depois de Millennium Masterwork ter chegado as lojas, um novo álbum de estúdio do Melvins saía do forno. Em Hostile Ambient Takeover, o Melvins deixou um pouco de lado o experimentalismo apostando na sua sonoridade mais tradicional.
No ano seguinte a Ipecac resgata mais uma peça do catálogo do Melvins. "10 Songs", o primeiro álbum da banda ganha um encarte caprichado e nada menos 16 faixas inéditas, sendo rebatizado "26 Songs".
Em 2004 o Melvins completou 20 anos de carreira em grande estilo. Para marcar a data, foi lançado o livro Neither Here Nor There, com 224 páginas de muitas histórias e fotos da banda. Acompanha o livro um CD contendo uma retrospectiva de 18 faixas cobrindo praticamente todos os discos.
Foram 20 anos em que o Melvins permaneceu fiel a si mesmo. A banda encontrou na Ipecac a parceira ideal para seguir em frente sem limites para a sua ousadia. E parece ter muito fôlego para continuar ainda por muitos anos, para a alegria de seus fãs.