Naufragado na tristeza, hoje vejo o desatino,
Que tu foste em meu destino, uma mulher, nada mais,
Tua exótica beleza, trouxe calor ao meu ninho,
Me deste o teu carinho, um amor doido, incontido,
Que jamais tinha sentido, ou sentirás jamais,
Foi num tempo sem grandeza, quando tu, pobre e modesta,
Arrastava na pobreza, uma existência sem prazer,
Hoje és toda uma bacana, tua vida canta em festa,
Com a bolsa dos otários, hoje brincas a vontade,
Como gato sem piedade, faz o rato padecer,
Hoje tens os olhos cheios, de promessas enganosas,
Das amigas mentirosas, dos marchantes da ambição,
Tens o samba misturado, com as farras e o pecado,
Que o afã de uma grandeza, do prazer e da tristeza,
Tudo muito enraizado, no teu pobre coração,
Nada devo agradecer-te, somos quite novamente,
Não me importa o que fizeste, quem te achou ou te perdeu,
Os favores recebidos, já paguei ao usurário,
E se resta alguma conta, escolheu minh'alma tonta,
Põe na conta deste otário, que escolhes-te, agora é teu!
Peço a Deus que teus triunfos, não triunfos passageiros,
Sejam ases, sejam trunfos, o que mais lhe convier,
O chefão que te sustente, tenha montes de cruzeiros,
Que te envolva em ambientes, galantes e lisonjeiros,
E que os homens digam sempre, que és uma boa mulher!
E amanhã quando. A mudança lhe deixar, velha e alquebrada,
Morre a ultima esperança, no teu pobre coração,
Se te faltar um auxílio, lembra o nosso amor antigo,
Podes chamar este amigo, está de volta do exílio,
Pra ajudar e consolar-te, ao chegar a ocasião!...
Composição: Carlos Gardel / Razzano S. Flore