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Me Diga (francisca)

Marina Lima

Francisca veio lá do norte, de onde
também vieram meus avós e pais
talvez em busca de novos horizontes
no tempo em que eu não era nem nascida

Mas se eu nasci há tanto tempo já
Que meu passado está perdido em brumas
rasteiras e fumaça, o que dizer
do dela?
Do dela tão mais distante?

Me diga, Francisca, me diga…

Francisca veio para o sul há tempos
e já chegou sonhando em retornar
e cultivar em meio a certas brenhas
algum roçado junto à sua mãe

Ela era quase ainda uma criança
e lá ficava o mundo de verdade:
o sol a chuva a noite a festa a morte
a vida
a aguardá-la, ainda mais distante

Me diga, Francisca, me diga…

Parnaíba, Ipiranga, Rio Longá, Campo Maior…

Um certo norte está onde ela está,
em frente `a praia de Copacabana,
onde ela faz cuscuz, beiju ou peta
e seu sotaque é cada vez mais forte

Me diga, Francisca, me diga…

E ela ralha com o feirante esperto
e tem conversas com a mãe ausente
e o sabiá pousado no seu dedo
que aponta
algum lugar tão mais distante

Entre o nordeste que deixou na infância
e o sul que nunca pareceu real
a Francisca tem saudade de uns lugares
que passam a existir quando ela os pinta:

São mares turquesados e espumantes
em frente a uns casarões abandonados
que, não sei bem porque, nos desamparam
no meio
de algum lugar tão distante

Me diga Francisca, me diga…






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