×

Biografia de Marcos Sacramento

Da varanda de sua casa, Marcos Sacramento tem uma visão ampla, livre e privilegiada do centro do Rio de janeiro. São histórias bem diferentes que se encontram naquele pedaço pulsante da cidade. Que continua até onde a vista consegue enxergar.
Dentro de casa a mesma amplitude está na música. Uma rápida passagem de olhos pelos CDs expostos na estante mostram que o morador não se limita musicalmente. Dentro dele também existem diversas realidades, épocas e escolas diferentes. Rótulos não pesam em sua seleção particular. Nem na hora de ouvir e muito menos no que escolhe para cantar.
De fato taxar Marcos Sacramento simplesmente por um estilo é deixar de ver vários lados do artista. Sacramento é hoje um intérprete capaz de alinhar em um mesmo roteiro delícias de Noel Rosa ou Cartola com contemporâneos os cariocas Luis Capucho e Luiz Acofra e o paulistano Paulo Padilha.
Quem conseguir entender essa visão livre não vai se surpreender quando descobrir que Marcos Sacramento estreou como cantor de uma banda de pop/rock, uma espécie de vanguarda carioca em meados dos anos 80. Mesmo assim no disco que gravou como integrante do Cão sem dono trazia uma releitura para Sinal fechado, hit de Paulinho da Viola. Aqui está o mesmo Sacramento que se vê hoje em dia: um artista livre que se expressa através da música.
Ainda fazendo parte da banda, em 1986 Sacramento foi parar em um disco do Selo Funarte cantando Custódio Mesquita. No ano seguinte dividiu palco com Marlene na temporada desse lançamento durante duas semanas. Em 1989 foi a vez de Sacramento cruzar seu caminho com o grande ídolo Orlando Silva, que viveu na novela Kananga do Japão, produção da Rede Manchete.
Em A modernidade da tradição, seu primeiro trabalho solo, o cantor se encontrou com o violão de Maurício Carrilho e com a percussão de Marcos Suzano. Em treze anos o disco ganhou pernas e fez sua própria história. Lançado no Brasil pelo pequeno selo Saci tornou-se artigo procurado, ainda mais com o crescente interesse pela obra do cantor. Três anos depois da edição brasileira saiu na Europa, EUA e Japão pelo selo francês Buda Musique. A repercussão foi maior, e o álbum foi considerado o melhor disco brasileiro em 1997 pela prestigiada revista francesa Le Monde de la Musique. O ciclo trouxe nova vida ao disco, que ganhou relançamento no Brasil em 2008 pela Biscoito Fino.
Ainda em 1994 Sacramento fez shows de lançamento do disco e participou de outra homenagem a Custódio Mesquita. No ano seguinte seria a vez de encontrar a obra de Baden Powell em uma série de shows com a cantora Clara Sandroni. Esse espetáculo rendeu um registro em estúdio, lançado em 2002. Sacramento e Sandroni ainda se juntaram em 1999 para, dessa vez, homenagear o compositor Sinhô em um show. Esse novo encontro rendeu três CDs, o primeiro no mesmo ano, um segundo volume em 2001 e o terceiro em 2002.

Em 1998 Sacramento lançou o álbum Caracane pelo selo paulistano Dabliú. Nesse CD apresentava suas próprias composições em parceria com Paulo Biano, além de voltar a autores como Sérgio Natureza, Antonio Saraiva e Fernando Morello. Seu trabalho como compositor também rendeu o álbum Fossa nova ao lado do pianista Carlos Fuchs, parceiro nas músicas. O disco, gravado ainda em 1998, só foi lançado em 2005.
Com o nome bem comentado e despertando cada vez mais atenção para sua música, em 2003 Sacramento lançou o álbum Memorável samba pela Biscoito Fino. Abrindo um novo tempo em sua carreira, o disco recebeu diversos elogios da imprensa, com sua leitura especial para sambas compostos entre 1932 e 1955. O show seguiu esse sucesso com apresentações no Brasil e Europa durante três anos.
O sucesso abriu caminho para o CD Sacramentos, lançado novamente pela Biscoito Fino em 2006. Primeiro disco batizado com seu nome continuou a incursão por autores clássicos como Noel Rosa, Ataulfo Alves, Cartola e Baden Powell. Sacramento assina uma parceria com Paulo Baiano e ainda incluiu nomes contemporâneos como Fátima Guedes e Luiz Flávio Alcofra, autor da faixa título, homenagem a Sacramento: “Do canto eu fiz minha fé”, dispara a letra.
A incansável busca por novidades para seu repertório faz Sacramento se multiplicar. Ainda na estrada com o show que resume sua carreira, em 2008 montou novo espetáculo com sonoridade variada e espaço para diversas experiências musicais. No mesmo ano participou do projeto Interseções cantando valsas brasileiras no palco sagrado da Sala Cecilia Meireles. O projeto foi encerrado com apresentação do pianista italiano Stefano Bollani, que convidou Sacramento para participar de seu show no Festival Umbria Jazz Orvieto, em janeiro de 2009.
Em junho de 2009 a Biscoito Fino lança “Na Cabeça”, o quarto CD de Marcos Sacramento por essa gravadora. Para esse novo álbum, Marcos convidou Rogério Caetano, Zé Paulo Becker e Luiz Flávio Alcofra.
O talento dá as possibilidades, a inteligência cria os caminhos. Sem seguir receitas ou se adequar aos rótulos de mercado, Marcos Sacramento voa dentro de sua música. O único compromisso que assina é com sua liberdade de escolher o que canta. Nessa visão ampla do artista a música não tem fronteiras.