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Estrada Real

Luiz Marenco

O brasedo invade cernes

Há um lúcido momento

Berra uma estrela perdida

Nublada de sentimento

Clareiam fogões guardados

No galpão do pensamento


Rodilhas enfumaçadas

Do palheiro vão à quincha

se rebolda uma esperança

E uma saudade relincha

No maneador do meu verso

Pastando à lu de uma frincha


Brotam imagens de ontem

Pelas lembranças cansadas

Preguiça nas silhuetas

Que surgem nas madrugadas

Morrem sonhos, nascem rimas

Pelos sinais das estradas


Há quietude nos lombilhos

E nas barbelas dos freios

Sesmarias encolhendo

Por atropelos alheios

Crescem pastos e macegas

Nos pelados dos rodeios


As léguas formam rasuras

Nas vibrações sensitivas

Pelos pousos das estradas

As nossas razões mais vivas

Apearam ponchos e malas

Das ancas das comitivas


Pelas pastagens de tropas

Ouço o troar dos motores

silenciaram os cincerros

Andejos dos corredores

E os relinchos das quadrilhas

No ritual dos matadores


Acenam vultos heróicos

Na ausência dos manotaços

Cambona longe dos tentos

Bretes enrodilham laços

E os buçais estão fugindo

Das mãos canhotas dos braços


Já não esvoaçam crinas

Nos turumbambas de patas

Apenas luze a história

Pelas bombilhas de prata

Falam vozes ancestrais

Por cochichos de alpargatas


Emborcadas pelas sombras

Açudeiras mariposas

Demarcando a caminhada

Para o fim das nossas cousas

Há um escarcéu de memórias

Pelos inscritos das lousas


Brotam imagens de ontem…

Composição: Eron Vaz Mattos - Luiz Marenco





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