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Romance do Pingo D'água

Luiz Carlos Borges

A filha moça, mocita
Na garupa de um gaudério
Pelo mundo se rolou
A mãe, triste, se pergunta
Se indaga se foi pra isso
Que a pariu e que a criou
O olhar de insônia e de pranto
Se afunda na várzea longe
Nesta várzea fim de mundo
Por onde a filha se foi
Por onde a filha se foi

O pai, xiru quietarrão
Ferido muito por dentro
Sofre a um só tempo por ele
Pela filha e a mulher
E a mágoa é tanta, tão grande
Que quase nele não cabe
Riscando dois regos claros
Se derrama pelos olhos
Para lembrar-lhe, na boca
Gosto de cinza e de sal

Quem disse que homem não chora
Não teve filha roubada
Por um gaudério qualquer
O pranto nasce dos olhos
Mas é cego, não distingue
Se esses olhos donde brota
São de macho ou de mulher

E no silêncio do rancho
Donde ausentou-se o sol claro
Do riso da moça filha
Pinga que pinga a goteira
Mal remendada do oitão
Como se chuva entendida
Da mágoa dos dois velhitos
Lá dos olhos da goteira
Pinga-pingasse aos pouquitos
Para chorar junto aos dois

A mesma chuva – culpada
Que apagou no pó da estrada
O rastro da que fugiu.






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