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Romance do Gaguinho

Luiz Carlos Borges

A "véia" deu um tempo e foi pra trás do rancho
Capinar uns canteiros
O "véio" era tropeiro e andava cruzando
Estradas por aí
E os dois namoradinhos perceberam tudo
No sofá da sala
E o diabo que não fala mas comanda o mundo
Pôs o dedo ali

A moça era assanhada e quando namorava
Tinha um sentimento
E o corpo incendiava e quanto mais no fogo
Mais ficava bom
O moço era acanhado e "gag-gaguejava"
Até no pensamento
E quando ela se veio ele ficou vermelho
E mal saía o som

"Tu-tu-tu tá louca, tira essa mã-mão
Da minha pi-pá-pára
Que dá-de repente, que já-já chega gente
E vá-vão nos ver"
Mas era primavera e ela veio cega
E ele entrou de cara
"Se-se tu tá querendo garoa com vento
Então tu-tu vai ter"

A "véia" voltou logo "vê" um café pro "véio"
Que tava chegando
E foram os dois entrando e encontraram a cena
"Mais ou meno" assim
A noivinha no colo e o noivo de fato
Bem acomodado
Mordendo atrás da nuca com a mão na cumbuca
E aí foi o fim

O véio deu um grito e arrancou da cinta
Um fazedor de estragos
E já calçou no trinta o gago rebocado
De batom carmim
O pobre apavorado fugiu que era um sorro
Por baixo da mesa
E cego de certeza que já tava morto
Gaguejava assim

"Que-que-que-que não, fa-fa-fi-fa-foi
O que pá-pi-parece
Eu só tava de olho, tava tirando um piolho
Que nã-nã-não sai"
Mas quando olhou pro cano do trinta do véio
Bem engatilhado
"Disse que-que-que tá e que-que-que casemo
Ai, ai, ai, ai, ai"

Caboclo que é passado na minha terra dança
Com uma cabriúva
Mulher desrespeitada casa ou enviúva
Antes de casar
Foi tanta correria pra arrumar um gaiteiro
Pendurar um borrego
Que não chegou a dar tempo de juntar os parentes
Pro padre chegar

Com a noiva pela mão e a ponta do facão
Calçada no espinhaço
Ele disse que sim num rancho de capim
No sul desse país
Um lote de cunhado olhando atravessado
E prometendo laço
E a sogra comovida e o resto da vida
Pra ser bem feliz!

Composição: Luiz Carlos Borges / Mauro Ferreira





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