Saudade, negra saudade
Que fere meu coração
Trazendo a vida passada
Na minha imaginação,
Os anos me arrastaram
Longe da infância florida
Estou chegando ao fim
Da longa estrada da vida.
Meu pai era boiadeiro
Viajava desde menino
E eu cresci nessa lida
Nasci com o mesmo destino,
Meu pai morreu na estrada
Marcado ao peso da idade
Pro mundo eu sigo levando
A negra cruz da saudade.
Estou no fim desta vida
Em meu exílio profundo
Recordo as longas viagens
Pra aqueles ecos de mundo,
Sonhando ainda eu vejo
A minha rede armada
Ainda sinto a friagem
Na brisa das madrugadas.
Sonhando às vezes em delírio
Escuto na voz do vento
O triste som de um berrante
Gemendo em meu pensamento,
Hoje eu sou a poeira
Que o gado faz na estrada
E vai sumindo aos poucos
Vai se acabando em nada.