Remou, remou, remou...
Remou contra a maré
E o barco naufragou
Na correnteza vi meu barco mar adentro
Quebrando onda balançando contra o vento
É lua nova, noite escura, maré cheia
Oferenda pra Iemanjá
Pai de Santo na areia
Relampeou, Odo iyá* mostrou caminho
É desapego dessa flor que é só espinho
Deixa, meu filho, de remar contra a maré
Vira o barco, muda o rumo
A dor passa, tenha fé!
Cruzei a guia fiz promessa e quebranto
Chamei meu Santo e pedi a proteção
A correnteza foi “calmando” com o tempo
Foi clareando lua cheia
Fui saindo da ilusão
Vou navegando na enseada da saudade
E corrigindo o leme da embarcação
Saio da onda que espuma falsidade
Numa dessas tempestades
Naufragou meu coração
Remou, remou, remou...
Remou contra a maré
E o barco naufragou
*Odo iyá, nas crenças das religiões afro-brasileiras, é a saudação ao orixá Iemanjá.