Cabo de soita cavalo
Curtindo as sombras da sangas
Um polim já rabonado
Do cerne das corinilhas.
Cortando mais que o minuano
Que sopra nestas coxilhas
Monteador fez as coivaras
Juntando rama por rama -
Como que junta saudade
No coração de quem ama.
Quando secam as coivaras
E a gente faz as queimadas
A fumaça sobe ao céu
Toda ela enrodilhada.
Alma das cobras cruzeiros
Que ali fizeram morada.
Não chegue perto do fogo
Quando arde um serpente -
Que ela põe os pés pra fora
Tentando os olhos da gente.
Prenunciando a quem assiste
Morte de amigo ou parente.
Corto angico, corto cerne
Abro picadas no tempo,
Limpo campo, planto riga,
Toco fogo nas coivaras.
Bebo água de vertente
No rastro das capivaras.
Levo sal grosso pro mato
Faço salmoura na sanga -
Curando os lanhos ca cara
Dos cortes das japecangas.
Procuro seguir a lenda
Não olho pata escondida
Que só se mostra aos poetas
Cantores de amor e vida
Como se as nossas raízes
Devessem ser esquecidas.
Vamos fazer as coivaras
Como faz o monteador -
Replantar nossas sementes
Como faz o semeador;
E cortar ervas daninha
Prá que floresça o amor.