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Presidiário

Júlio César

Olha, pastor, escrevo as maus traçadas linhas,
Não repare o português eu não pude estudar
Tô te escrevendo daqui dentro do presídio
A um favor quero solicitar, faz 30 anos
Que eu fui condenado, eu tinha 20 anos
e 50 anos vou aniversariar, envelheci os meus
cabelos na cadeia, mais daqui 15 dias eles vão me soltar

Olha, pastor, quero que venha na portaria
Deste presidio lá me apanhar, estou me
Sentindo como um cachorro caido de um caminhão
De mudanças e eu não sei aonde andar

Olha, pastor, os meus pais já morreram,
Minha mãe não fui no enterro, meus irmãos
Me desprezaram em 30 anos, nunca me
Visitaram, se morreram, se casaram, não
Sei qual rumo tomaram neste longos 30 anos
De cadeia, assassinos perigosos já vieram me matar,
DEUS me livrou e o escrivão me garantiu
Daqui há 15 dias eles vão me soltar

Olha, pasto, eu sou uma ovelha sua
Eu aceitei JESUS quando vieste aqui pregar
E de lá pra cá, foram só bênçãos mil
Mas o senhor sumiu e eu não pude lhe contar
Olha pastor uma noite
Veio um homem com as mãos furadas
Aqui na grade me acordar, dizendo: filho,
Eu o ouvi o seu clamor, meu pai te perdoou
E daí vai te tirar

Olha, pastor, lá do portão do presídio, pode me levar à igreja
Pode me pôr pra trabalhar varrer templo, limpar bancos,
encher os filtros, abrir cultos com corinhos e até folhetos espalhar,
Aquela bíblia que me deste de presente eu passo o dia meditado eu
acho que eu já sei pregar, se ouver também uma solteirona, fala que
eu estou transformado, eu também quero casar, e o meu ultimo
pedido eu descansar, que me leve para um rio ou um riacho,
Pastor eu quero batizar
Adeus.
Adeus.
Adeus.






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