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Último Bilhete

José Fortuna

Eu voltei para rever a minha terra, o lugar onde eu fui nascido
eu sentei no jardim recordando, os momentos alegres vividos
com meu bem quantas vezes neste banco, nossos lábios com amor foi unido
eu notei que o jardim estava triste, o velho coqueiro já tinha caído
até os passarinhos já tinham fugido, ficou só a rola cantando sentido,
querendo contar-me o acontecido.

Eu olhei lá para aquelas palmeiras, recordei meu benzinho querido
e pensei se ela ainda é solteira, ou se tinha de mim se esquecido
compreendi no cantar da rolinha, que Teresa já tinha morrido
no jardim encontrei ela morta, depois de três dias que eu tinha partido
com um bilhetinho por sobre o vestido, dizendo eu morro por não ter podido
resistir a ausência do meu bem querido.

Compreendi porque a rosa encarnada entre os galhos já tinha sumido
e a brisa soprando o cipreste imitava um profundo gemido
e o banco que nós dois sentava, tava cheio de cisco puído
é porque ninguém mais sentou nele, ficou com a saudade, num canto esquecido
frio igual a pedra de um velho jazigo, num triste abandono dez anos seguidos
única lembrança de um tempo querido.

Eu olhei lá pro alto da vila, vi atrás de um muro caído
uma cruz dentro do cemitério, como o sol dava um tom colorido
era onde Teresa jazia, com seu corpo no chão consumido
eu tomei o primeiro noturno e voltei pra São Paulo muito aborrecido
o trem lá na curva apitou tão doído, vi que o cemitério já tinha sumido
nunca mais Teresa saiu do sentido.






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