Vai tocando, vai tocando, pelo chão dos desenganos
Vai tocando nos seus sonhos, a boiada de seus anos
Vai tocando, vai tocando, boiadeiro já cansado
No curral do fim da vida, dá descanso pro seu gado.

Vai tocando, vai tocando. vai tocando, o seu destino
Toca o vosso pensamento, pro seu tempo de menino
Vai tocando, vai tocando, no galope da saudade
Pra bem longe o vosso tempo, pra bem perto a mocidade.

Dorme, velho boiadeiro, sobre a rede
que um dia seu filhinho balançou
Hoje, enquanto você dorme, ele viaja,
a pisar o mesmo chão que o pai pisou
Deste a ele um coração de boiadeiro,
a coragem e a firmeza de seus braços
Pra fazer no carrascal o pantaneiro,
se enrolar na ponta firme de seu laço.

Não desperte boiadeiro de seu sono,
e procure ver em sonho bem pertinho
A boiada caminhando lentamente,
se perdendo na poeira do caminho
O seu filho, seu herdeiro de viagem,
vai seguindo os seus passos do passado
Por desvios e gargantas de montanhas,
pelos ermos de sertões abandonados.