Eu sou um peão sertanejo que venho lá do sertão
divisa do Piauí com o estado do Maranhão
criado sem pai e mãe, sem parente e sem irmão
andando de braço em braço, chorando de mão em mão
sou filho de uma saudade nascida de um coração.
Eu fui criado no mundo na mais triste judiação
acompanhando os tropeiros pro centro desse mundão
se eu morrer não deixo luto, pra ninguém deixo paixão
eu não conheço perigo montando em burro pagão
fazendo gemer na espora, burro brabo e redomão.
Burro vai pular eu conheço pelas orelhas
eu gosto de burro bravo que pula e me balanceia
tenho um segredo guardado pra quando um burro boleia
eu corto o couro de espora da anca até o pé da orelha
o burro entrega no osso, jogando sangue das veias
Na fazenda das Três Pontes, eu recebi um chamado
pra eu ir montar num burro de muitos peões enjeitado
quando cheguei na fazenda o povo estava alarmado
joguei o laço e montei no burro desarriado
o bicho saiu bufando, pulando feio e furtado
Da janela do sobrado estava a filha do patrão
ela falou suspirando.: “não cai do burro peão”
do pé de roseira branca, pulando apanhei um botão
pra morena da janela, entreguei com minha mão
deixei o burro amansado e voltei lá pro meu sertão.