A onça parou na mata
Para olhar o avião
Que cruzava barulhento
O céu azul do sertão
Tanto ruído no espaço
Tanta paz aqui no chão
Tanta mata recebendo
Da lua cheia o clarão
A filha da natureza – pensou
Veja até onde o homem – chegou
Um dia o pobre bichinho
Buscava alimentação
Para o filho que esperava
Em seu ninho no grotão
Na isca do bicho-homem
Ela caiu na prisão
Foi levada para longe
De seu pedaço de chão
A filha da natureza – chorou
Porque nunca mais ao ninho – voltou
No picadeiro de um circo
Passou a ser atração
Provocando arrepios
E aplausos da multidão
Para o homem ganancioso
Ela era o ganha-pão
De cidade em cidade
Em cima de um caminhão
A filha da natureza – sofreu
Para esquecer o sertão – que era seu
Cansada das chicotadas
Que lhe fez sangrar de dor
Num ato de desespero
Matou o seu domador
No meio do picadeiro
Muitos tiros recebeu
Dentro de sua prisão
A onça também morreu
A filha da natureza – perdeu
A vida – prêmio que a morte lhe deu