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As Duas Flores

José Fortuna

As duas flores que um dia
Na despedida trocamos
Brotaram no mesmo campo
Juntinhas no mesmo ramo
Estavam todas molhadas
Do pranto que nós choramos
Foi a última lembrança
Do tempo que nos amamos
Depois como duas aves
Por céus estranhos voamos

A sua flor eu guardei
Num livro de poesia
Até hoje me acompanha
Dentro das páginas frias
A flor que eu lhe dei chorando
Você com toda ironia
Jogou fora com desprezo
Beirando a estrada vazia
Tendo a noite por morada
E o vento por companhia

Bem desiguais hoje vivem
As flores da despedida
Separadas como nuvens
No azul do espaço perdidas
No meu livro de poemas
Sua flor vive escondida
Perfumando poesias
Que para você são lidas
Marcando folha por folha
O livro de minha vida

Da flor que você jogou
Uma semente pequena
Brotou e cresceu viçosa
Um lindo pé de açucena
Onde canta um passarinho
E faz seu ninho de pena
A pena desta distância
Distância que me condena
Condenado a viver triste
Longe de você morena








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