Lá d’outra banda da serra beirando aquele caminho
há tempo já fui feliz, lá construí meu ranchinho
tinha um roçado, um monjolo, no barranco, um riozinho
uma viola, uma cabocla, que me amava com carinho.
Era Maria, seu moço, a muié mió que havia
no quintar uns pé de cana e prá maior alegria
nós dois já tinha uma filhinha, gatinhando no terreiro
e um amigo inseparavel, o meu véio cão perdigueiro.
Mas como tudo no mundo, peca e erra arguma vez
arrependido e chorando confesso, também errei
abandonei meu ranchinho, pra mór de outra muié
troquei o amor de Maria pela cabocla Izabé.
Depois de um ano passado a Izabé me abandonô
fiquei sozinho no mundo como um cão sem protetô
arrependido e chorando resorvi vortá pra trás
pedi perdão pra Maria, mas era tarde demais.
No lugá do meu ranchinho só encontrei capinzar
três, quatro esteio de pé, é o que sobrô de sinar
só soube de toda a história, de um véio ali moradô
que de joeio no chão, deste jeito me falô:
Depois que você foi embora, aqui tudo entristeceu
o monjolo abandonado nunca mais ele bateu
sua filha ficou doente, sempre chamando você
sem recurso a coitadinha, padeceu até morrê.
Maria ficou sozinha de desgosto enlouqueceu
Foi na cova da filhinha bebeu veneno e morreu
E numa tarde chuvosa, fomos sepurtá Maria
No mesmo tronco de ipê, ao lado de sua fia.