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Biografia de José Candido

Nasceu em 1927, em uma casa meia água de taipa, de quarto, sala e cozinha, construída à beira do Riacho Gravatá, no sítio Puxinanã, Município de Santana do Ipanema. A felicidade da convivência familiar e o cenário sertanejo ficarão gravados em sua alma influenciando-o em todos os seus cantos. Aos dezessete anos iria partir com o tio para a cidade grande.

Quando partiu para Aracaju, aos dezessete anos, já estava gravada na sua alma o ideal sertanejo: as dificuldades de subsistência e a rara beleza do antagonismo do semiárido, sem falar na influência da literatura de cordel. De forma geral, seus poemas e canções são influenciados e retratam sua terra, o sertão, sua gente e seus costumes. A força poética dos sentimentos; dor, a saudade e o amor são temas recorrentes em sua obra.

Em 1945 parte para Aracaju passando a morar em companhia dos seus familiares. Em 1948 presta serviço militar que fortalece seus princípios de respeito a hierarquia e honradez no serviço público que passa a ser determinante na sua conduta e princípios. Em 1949, casa-se com D. Celina e, nesse ano, nasce o primeiro filho Ivan José. Seus dons artísticos já afloravam em algumas composições iniciais.

Em 1950 chega ao Rio. Em agosto desse ano, fora admitido como servidor da Light empresa concessionária de energia elétrica e outros órgãos, trabalhando por 39 anos. A família havia ficado dividida, parte em Aracaju e José Cândido no Rio. D. Celina não se adaptara. Foram muitas tentativas, porém, sem sucesso. Em 1952, nasce o segundo filho Iran. Em 1953, nasce o terceiro filho Itamar José. Nesse mesmo período começa a frequentar os auditórios das rádios Nacional, Tupi, Tamoio e outras. Locais onde se apresentavam os principais artistas da época de ouro do rádio; Emilinha Borba, Linda Batista, Luiz Vieira e Orlando Silva.

Ao assistir ao espetáculo dos “Gonzagas”; o velho Januário, Luiz, Severino José, Aloísio, Socorro e Chica, no auditório da Rádio Tupi, por ocasião da inauguração da emissora de televisão do mesmo nome. Deslumbrado e emocionado com o talento dos Gonzagas, sente-se estimulado a dedicar-se à composição, sempre influenciado pelas lembranças do sertão, da literatura de cordel e do sucesso do baião de Luiz Gonzaga, compõe sua primeira música: “O cabelo de boneca”.

Segundo suas próprias palavras; “na tentativa de se tornar compositor, passou a frequentar os locais onde os artistas da época costumavam se reunir: Praça Tiradentes, defronte ao Teatro Carlos Gomes, no Rio”. Nessa época, conhece Nelson Cavaquinho e chegam a acordar sobre a possibilidade de parceria. Nelson Cavaquinho apresenta José Cândido a João do Vale que havia gravado a canção “Estrela Miúda”, com Marlene, Madalena e Zé Gonzaga.

João do Vale, à época, exercia a profissão de servente de pedreiro. Segundo depoimento de José Cândido, no momento em que João do Vale o conheceu, pediu para morar com ele no quarto onde morava. No período dessa convivência João do Vale aprendeu suas composições e se tornaram parceiros. Dedicado ao trabalho como servidor da light, empresa concessionária de energia elétrica do Rio, e também por conta da sua timidez, não tinha tempo para frequentar o meio artístico. João do Vale, por sua vez, abandonou o trabalho e passou a se dedicar integralmente a vida musical e a convivência com os artistas.

Certo dia, João do Vale trouxe a notícia de que sua música “O cabelo de boneca” iria ser gravada e, finalmente Zé Cândido iria assinar contrato com a gravadora Colúmbia, que efetivamente ocorreu em 1955 e é sua estreia oficial no mundo da música. No momento da gravação estavam no estúdio, vários músicos, entre eles; Altamiro Carrilho, Buco do Pandeiro e Chiquinho do Acordeom.

Além de “O Cabelo de Boneca” foram também gravadas “Aroeira” e “Machucado”. Três meses depois foram gravadas, pela gravadora Polidor, “Pisa Mulata”; com Luiz Wanderley e o “Pé do Lajeiro”; com o Trio Maraiá. Com essas composições, associou-se a União Brasileira dos Compositores, que ocorreu em 1955. Após esse feito, o compositor ganhou projeção Nacional e novas oportunidades surgiram, mas as responsabilidades com o trabalho e a família o impediram de se expandir na trajetória, segundo sua própria biografia, permanecendo à sombra de João do Vale.

Em 1957, nasceu sua quarta filha, Íris Delmar. João do Vale e José Cândido tornaram-se compadres pelo batizado de Íris, dois anos depois numa festa musical com a presença de vários artistas, dentre eles Zequinha do Acordeom.

Em 1958, Marinês gravou “O Segredo do Sertanejo”. Os irmãos Roberto e Reginaldo Faria produziram o filme “No Mundo da Lua” onde foram incluídas três músicas da sua autoria com o parceiro João do Vale: “Aroeira”, “Machucado” e “O Segredo do Sertanejo”.

Quando o filme entrou em cartaz e viu seu nome listado nos créditos do filme, sua emoção foi incomensurável. Queria gritar a todos dentro do cinema que aquelas canções eram de sua autoria. Podemos imaginar sua euforia. A voz original das canções do filme era de Evaldo Gouveia, mas as dublagens das canções eram feitas pelo galã do filme, Reginaldo Faria.

Em 1959, nasceu seu filho Paulo, do relacionamento com Aleide. Em 1960, D. Celina deu à luz aos gêmeos: Iracema e Iremar.

Segundo suas palavras a inspiração para compor sua célebre canção foi a cena testemunhada “... numa dessas minhas idas ao sertão nordestino, vivenciei a luta de um carcará para sobreviver. Meu pai acabara de queimar uma roça, o fogo ainda estava vivo por todos os cantos. O carcará enfrentou o braseiro, tirou de dentro dele uma cobra enorme, com suas garras afiadas e foi comer cobra assada no galho de uma baraúna. Aproveitei a bravura do bicho e compus “Carcará”.

A música ficou engavetada quase dez anos. Todos os intérpretes do gênero tomaram conhecimento dela, inclusive Luiz Gonzaga. Mas ninguém quis gravar. No segundo semestre de 1964, um grupo de artistas, entre eles Doryval Caymmi, Carlos Lira e o poeta Ferreira Gullar, montaram o “Show Opinião”, que seria apresentado pelos compositores João do Vale, Zé Keti e pela cantora Nara Leão. Na escolha das músicas, cada um dava seu palpite. João do Vale, que já conhecia “Carcará”, lembrou-se de apresentá-la aos selecionadores que a aprovaram por unanimidade. Além desta, foram incluídas “Ouricuri” e “Morceguinho”.

Quando Nara Leão cantou a canção “Carcará” a plateia aplaudiu de pé. Nascia naquele momento seu grande sucesso. Nara percebeu a força da música e a gravou imediatamente. Quando o show estava no apogeu, Nara afastou-se por problemas de saúde. Para substituí-la, veio a estreante Maria Bethânia. O sucesso foi arrasador e a canção também fora gravada por ela no mesmo ano, consolidando a estreante como promessa no cenário artístico nacional.

Com o sucesso de “Carcará”, as portas se abriram, parcialmente, conforme seu depoimento e se libertou um pouco da influência do principal parceiro, João do Vale. Frequentando com mais assiduidade a União Brasileira de Compositores, conheceu grandes nomes do cenário artístico brasileiro, tais como: Vicente Celestino, Jorge Vieira, Alcides Gerardes, Ataulfo Alves, Jair Amorim, Humberto Teixeira e Wilson Batista, dentre outros.

Conseguiu gravar com os seguintes artistas Zé Gonzaga, Marinês, Trio Mossoró, Dominguinhos, Diana Pequeno e Zé Ramalho, dentre outros. Sem contar com mais de 30 regravações de “Carcará” em todo mundo.

Em 1969, para completar o orçamento, exerce o ofício de taxista, mas não permanece muito tempo na atividade, encerrando-a em seguida.

Sua vida pessoal e familiar foi repleta de desafios, principalmente porque esposa e filhos ficaram em Aracaju e ele no Rio. A vida no Rio também foi de dificuldades, nada obstante as oportunidades e o reconhecimento do trabalho artístico. Porém, manteve-se íntegro na manutenção e custeio da família à distância. Mesmo com o sucesso e projeção nacional como compositor não lhe rendera folga financeira. A legislação brasileira sobre pagamento de direitos autorais ainda é insuficiente e incompleta.

Seus pais, seus ídolos, faleceu em 1982, Seu Noquinha; aquele que foi seu maior orgulho e em 1983, D. Iaiá, sua adorada mãe.

Em 1989, já aposentado, retorna a Santana do Ipanema, agora com a companheira Terezinha. Porém, por problemas de saúde da sua companheira e seu também, decide morar em Aracaju, que ocorreu em 1992. Pouco tempo depois vem a falecer sua companheira Terezinha.

José Cândido viveu 50 anos longe de Santana. Nesse período, voltou a sua terra por mais 30 vezes, conforme afirma. Em 1996, ao completar seus 68 anos a Câmara de Vereadores prestou-lhe homenagem, denominando a rua em que morou no bairro da floresta, por ocasião do seu retorno, com seu nome: Rua Compositor José Candido. Faleceu em 2008 em Aracaju. Em 1998, Waldo Santana, cantor/compositor santanense, incluiu canção de José Cândido, “Por Que Chover no Mar?” em seu CD “O amor é assim”.

Assim como todos os artistas que partiram da sua terra para outras plagas, um sonho permanece real: voltar pra sua terra e sua gente! Viver na cidade grande para um sertanejo será sempre um grande desafio e a realidade de voltar para seu povo, sua gente, um sonho. Um sonho que custa quase sempre toda a vida. Sua paixão por Santana do Ipanema está imortalizada na canção/poema “A Capital do Sertão”, cujos versos exaltam a cidade, sua importância, a saudade e a tristeza pela partida.

Vez por outra indagamos: O que será ser bem sucedido? Cada um de nós pode ter respostas pessoais, bem definidas. Alguns filósofos defendem que devemos potencializar nossas habilidades e fazer nosso papel de cidadão na sociedade, usando nossos talentos para o bem comum. Isso é ser bem sucedido! José Cândido foi um homem bem sucedido em sua trajetória. Seu nome está escrito, com méritos, na história da música popular brasileira.

Hoje, Santana do Ipanema, reconhece e bate palmas para o Menino de Puxinanã, imortalizado pela Academia Santanense de Letras, Ciência e Artes pelo conjunto de sua obra, com a cadeira nº 18. Publicou sua autobiografia intitulada “O menino de Puxinanã” em 1997, cujo livro foi objeto de pesquisa para esta homenagem e “Querubim”, romance, em 2001.