Vai-se a vida e vem a morte
O mal que a todos domina
Reina o comércio da china
Às cavalitas da sorte
Dinheiro seja louvado
A cruz de cristo nas velas
Soprou o diabo nelas
Deu à costa um afogado
A guerra é coisa ligeira
Tudo vem do mal de ofício
Não pode haver desperdício
Nesta vida de canseira
Demanda o porto corsário
No caminho faz aguada
Ali findou seu fadário
Morreu de morte matada
A nau de antónio faria
Leva no bojo escondida
A cabeça de uma corsário
Que lhes quis tirar a vida
Aljofre pérola rama
Eis os pecados do mundo
Assim vai a nau ao fundo
Sem arte a honra e a fama
Entre cristãos e gentios
Em gritos e altos brados
Para ganhar uns cruzados
Lançam-se mil desafios
Em vindo de veniaga
Com a vela solta ao vento
Um mouro é posto a tormento
Por não dizer quem lhe paga
Vou-me à costa à outra banda
Já vejo o rio amarelo
Foi no tempo do farelo
Agora é o rei quem manda
Faz-te à vela marinheiro
Rumo ao reino de sião
Antes do fim de janeiro
Hás-de ser meu capitão.