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Negrinho do Pastoreio

Joca Martins

Nessa colméia povoeira
onde fiz arranchamento
amarro fletes de sonhos

nos palanques de cimento
vou bebendo nostalgias
de sangua, pitanga e vento

sesmarias de saudade
não cabem num apartamento
quando a lua se debruça

no arranha-céu dos viveiros
onde arranchei minha alma
no meu exílio povoeiro

coiceia dentro do peito
um coração caborteiro
me sinto um pássaro preso

na angústia de um cativeiro
um luzeiro imaginário
na quincha de um céu nublado

vai apartando o rebanho
de fumaça nos telhados
e uma saudade de noivo

de campo e berro de gado
vou embora pra querência
pra me arranchar no meu chão

amanhã eu ponho anúncio
nos grandes classificados
vende-se um apartamento

no coração da cidade
a preço de ocasião
por motivo de saudade






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